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A Igreja pode mudar: há apenas sessenta anos, papas usavam coroa

E andavam num trono carregado pela Praça de São Pedro, abanados por leques de pluma, tradições eliminadas pelo nada populista Paulo VI

Por Vilma Gryzinski 8 Maio 2025, 14h58

O novo papa Leão XIV terá uma missão tão complicada quanto a de seus antecessores mais recentes: encontrar um caminho entre a prodigiosa herança cultural e ritualística, desenvolvida ao longo de dois milênios, e a renovação necessária para que a Igreja não vire um museu, uma curiosidade corroída pela acelerada descristianização do mundo ocidental onde os papas seriam vistos como figuras folclóricas, coisa de um tempo que passou.

É, objetivamente, uma missão impossível: não existem forças capazes de alterar os rumos da história. Mas a alternativa é ver a decadência final.

Que fará o homem sobre cujos ombros foi depositado um peso tão grande? Como navegar entre os reformistas exaltados e os “teocons”, neologismo inventando para caracterizar os tradicionalisas – num paralelo com os “neocons”, ou neoconservadores, dá época do governo do último presidente Bush?

Quando assumem o Trono de Pedro, muitos papas mudam, tornam-se personalidades mais veementes, até correm riscos. Francisco foi um exemplo dessa tendência, aproximando seu papado de causas reformistas – perigosamente, na opinião dos mais tradicionalistas.

O primeiro papa americano, Robert Prevost, um agostiniano com a experiência sem precedentes de ter sido até arcebispo no Peru, onde foi missionário durante duas décadas, tem um bocado de predecessores em quem se inspirar.

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GOVERNADOR DO MUNDO

João XXIII, um simplório filho de agricultores, tinha um perfil de papa intermediário, daqueles que ocupam um espaço pouco significativo entre dois papados mais relevantes. Convocou em 1962 o histórico Concílio Vaticano II. Muitas das mudanças foram levadas adiante por seu sucessor, o mais intelectualizado Paulo VI, sem nada de toques populistas.

Parece absurdo hoje imaginar que Giovanni Maria Montini, seu nome original, foi o primeiro papa a viajar de avião, em 1964, numa viagem à Jordânia.

Também parece absurdo que coube a Paulo VI a acabar com os serviçais que abanavam grandes leques de plumas, como se o papa fosse um potentado oriental, Também arquivou a “sedia gestatória”, a cadeira semelhante a um trono por onde os papas circulavam pela Praça de São Pedro, carregado por homens de fraque e luvas brancas, tais como os funcionários do Vaticano que transportaram o caixão de Francisco.

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Paulo VI foi o último papa a usar a tiara papal, efetivamente uma coroa enorme, de formato similar à da mitra episcopal. Ao longo da história, reis e rainhas católicos doaram essas tiaras, colocadas até na bandeira do Vaticano. A usada por Paulo VI foi doada por fiéis de Milão, onde o papa Montini, como dizem os italianos, havia sido arcebispo.

O triregno, como é chamada a coroa, com uma base e três círculos superpostos, significando o tríplice poder pontifício (pai dos reis, governador do mundo e vigário de Cristo), não era exatamente uma joia bonita, mas um objeto pesado, feita de prata com acabamentos em ouro. Paulo VI a doou para ajudar crianças necessitadas e americanos católicos a arremataram. Hoje fica exposta na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição em Washington.

SANTOS E PECADORES

Também foi o primeiro a pedir orações pelas “insinuações horríveis e caluniosas” que falavam num relacionamento dele com o ator Paolo Carlini. De certa forma, legitimou a boataria apenas sussurrada. Às vezes, falta sabedoria quando ela é mais necessária.

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São histórias de uma Igreja complexa, feita por santos e pecadores, ambos em escala gigantesca. Paulo VI, por sinal, foi canonizado por Francisco.

É comum dizer que o papa é o líder espiritual de 1,4 bilhão de pessoas – um exagero, considerando-se que os reais praticantes da religião, com todas as suas exigências, talvez sejam 20% desse número ou até menos.

Existirá essa Igreja dentro de 100, 200 anos? É um peso tremendo, mesmo que nenhum papa seja mais considerado governador do mundo.

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Leão XIV, o papa americano, começou a ser escrutinado no momento em que apareceu e isso vai continuar a acontecer. “Usou a mozetta”, foi uma reação unânime, numa referência à sobrecapa curta que Francisco não aceitou ao aparecer no balcão da basílica de São Pedro.

Mudar sem afetar a essência, ser fiel à mensagem de Jesus Cristo sem ceder a modismos – e administrar Donald Trump, com a experiência única de ser um americano de Chicago. Tem que ter força de leão e corresponder ao próprio nome.

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