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A guerra que não pode ser esquecida: Ucrânia ainda importa para todos

Os seres humanos se acostumam a tudo, até a guerras, mas esse sentimento não deve prevalecer quando estão em jogo princípios vitais

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 Maio 2024, 17h12 - Publicado em 2 jan 2024, 07h50

Era inevitável que acontecesse – principalmente com o surgimento de outro conflito, com imagens mais pungentes repetindo um ciclo terrível: bombardeios, edifícios destruídos, civis atingidos.

É triste, mas é a realidade. Quando a Rússia lançou no fim da semana passada o maior ataque até hoje contra a Ucrânia, despejando a incrível quantidade de 148 mísseis e dezenas de drones – a maioria interceptados, mas suficientes para matar 39 pessoas em Kiev –, muita gente teve apenas uma sensação de déjà vu, de repetição de uma cena tantas vezes ocorrida antes. Diante de um raro ataque ucraniano em solo russo, nessa manhã veio outra resposta cruel, com mísseis hipersônicos matando 27 pessoas.

A ferocidade dos ataques foi até considerada “inevitável”, a reação diante do bombardeio ucraniano em Belgorod e a uma tremenda humilhação infligida às forças russas: o afundamento do navio de desembarque anfíbio Novocherskassk, ancorado na Crimeia. Até há não muito tempo, a perda de uma embarcação dessas dimensões seria uma notícia formidável. Agora, parecemos insensibilizados, como se a guerra estivesse sendo empurrada para prateleiras distantes da memória.

“Não podemos esquecer que 20% da frota russa no Mar Negro foi destruída nos últimos quatro meses”, tentou bombar o secretário da Defesa do Reino Unido, Grant Schapps. “Os que acreditam num impasse na guerra da Ucrânia estão errados”.

A primeira parte da declaração está correta. A segunda enfrenta o teste da realidade. Os princípios vitais em jogo na Ucrânia, como a autodeterminação dos povos e a inviolabilidade das fronteiras, sem falar na repulsa moral que uma invasão injustificada e brutal provoca, vão sendo gradualmente esgarçados.

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FORA DO JOGO

A contraofensiva ucraniana não avançou, a situação no campo de batalha está literalmente congelada até o fim do inverno europeu e a direita trumpista nos Estados Unidos está conseguindo não apenas suspender a ajuda à Ucrânia – por um princípio justo, mas distorcido, de que a situação descontrolada na fronteira com o México precisa ser enfrentada simultaneamente –, como disseminar a propaganda russa de que os americanos não têm interesses vitais em jogo nesse conflito.

Os mais cínicos acham até que o principal já foi conseguido: a Rússia, com o número assombroso de 315 mil baixas entre mortos e feridos, vai demorar uns dez ou quinze anos para recompor as perdas humanas e materiais. Está, literalmente, mancando, mais do que nunca fora do jogo das grandes potências, embora ainda disponha do maior arsenal nuclear do planeta.

Outros analistas são mais pessimistas. “Os americanos não esperavam que a Ucrânia resistisse. Todo mundo ficou realmente surpreso com o sucesso da defesa de Kiev”, disse em entrevista recente o historiador britânico Niall Fergunson. “Só a partir daí começamos a lhes fornecer armas. Mas só demos armas suficientes para não perder, não para ganhar. Em Washington, tinha gente dizendo que ‘isso é ótimo, as forças russas estão sendo degradadas e nós não precisamos participar da luta’.”

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“Mas isso criou um grande risco para a Ucrânia: ela esgotou sua capacidade ofensiva. Deveríamos ter visto a necessidade de um armistício no ano passado, quando as coisas estavam indo muito bem para a Ucrânia.”

QUASE MESSIÂNICO

Num momento assim, muitos dedos começam a apontar para Volodimir Zelensky. O presidente tão formidavelmente decisivo para a resistência da Ucrânia agora passou a ser visto como intransigente demais em sua determinação de recuperar todos os territórios ocupados pelos russos, inclusive a Crimeia.

Sem vitórias, as lutas internas prosperam. O que parecia uma frente inoxidável, a de Zelensky com as forças armadas, mostra rachas. Muitos enxergam uma luta pelo poder entre o ex-comediante propelido a herói da resistência e outro nome fortíssimo, com estilo totalmente oposto, o do general Valeri Zalujni. O confronto escapou para a esfera pública depois da famosa entrevista do general à Economist, falando sobre a situação de empate na frente de batalha, como na I Guerra Mundial. E um empate sempre vai favorecer a Rússia, que tem cem milhões de habitantes a mais do que os 43 milhões de ucranianos, um território 28 vezes maior e indústria bélica consolidada, além de reforçada por aliados recentes, como o Irã.

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Zelensky parece tomado por uma convicção “irremovível, quase messiânica” de que a Ucrânia pode vencer a guerra se tiver os meios para isso, escreveu Simon Shuster na Time. Ele ouviu de “um dos assessores mais próximos” do presidente que o ex-comediante, um ator com incrível senso de timing, agora perdeu o compasso e está se iludindo. “Nós não temos mais opções. Não estamos ganhando. Mas tente convencê-lo disso”.

Angustiado, frustrado e com raiva, esse é o estado de espírito atribuído a Zelensky, enquanto seu xará Vladimir Putin parece ter derrubado os poucos sinais de resistência interna – nem que precisasse explodir um avião com seu ex-amigo Ievgueni Prigojin dentro – e aumenta a pressão sobre a Ucrânia com novos ataques aéreos.

Um mundo em que Zelensky vai mal e Putin vai bem é ruim para todos.

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