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A falta que os Estados Unidos fazem: sozinho, Israel sofre perdas

Nem os múltiplos sistemas de defesa antiaérea conseguem derrubar todos os mísseis que o Irã dispara, usando tática de saturação

Por Vilma Gryzinski 16 jun 2025, 06h51

Já são três noites de medo e mortes em Israel, com 24 mortos, duas centenas de feridos e uma pergunta constante: onde estão o Domo de Ferro, o Estilingue de Davi, o Flecha 3 e outros sistemas tão formidáveis de defesa contra mísseis e drones disparados pelo Irã.

A resposta é vista no céu. Os sistemas estão em operação continuamente, transformando as noites sobre Tel Aviv e outras cidades num vídeo game da vida real. Os ataques acontecem basicamente à noite porque os mísseis precisam ser carregados com combustível e oxidante, um momento vulnerável com a aviação israelense controlando o espaço aéreo iraniano.

As interceptações são constantes – mas, ao contrário do que aconteceu em outubro do ano passado, não existe uma coalizão de americanos, franceses, ingleses e até jordanianos formando múltiplos escudos protetores.

Disparando até mais de 140 mísseis por noite, o Irã conta que a saturação acabe “furando” os sistemas e isso vai se repetir até uma solução diplomática – da qual não existe nenhum sinal no momento – ou o esgotamento dos estoques. Segundo as Forças de Defesa de Israel, de 5% a 10% dos mísseis iranianos estão conseguindo atingir alvos.

Calcula-se que o Irã, antes da eclosão do conflito, tivesse mais de três mil mísseis balísticos, transportando de 300 a 700 quilos de explosivos, o que explica as cenas sem precedentes em Israel: prédios inteiros destruídos, num tremendo impacto físico e psicológico. Os foguetes do Hamas nunca chegaram nem perto desse nível destruição.

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Todos os mortos não estavam protegidos nos abrigos antibombas que são obrigatórios nos prédios há mais de trinta anos. Alguns dos mísseis explodem em áreas não habitadas e são deliberadamente deixados até o fim da trajetória, para economizar interceptadores. Dependendo do sistema, cada um deles pode custar até um milhão de dólares.

HIPÓTESE SUICIDA

Como Israel pode ter o domínio dos céus no Irã, depois de neutralizar suas baterias antiaéreas, mas não consegue evitar os mísseis dirigidos contra a população civil? Os lançadores de mísseis, fixos ou móveis, são espalhados por uma área ampla justamente para evitar que sejam destruídos. O Irã é um país grande, de 1,6 milhão de quilômetros quadrados – para comparar: Israel tem 20 mil quilômetros quadrados, um tamanho equivalente ao Sergipe, nosso menor estado.

Segundo disse uma fonte militar ao site The Times of Israel, o número de lançamentos estava abaixo do “cenário de referência”. Ou seja, as forças de defesa esperavam um número maior de ataques e de baixas.

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Mas para a população civil é um choque. De tanto ver os sistemas de defesa explodindo mísseis e foguetes no céu, acabou se formando um conceito, equivocado, de que Israel é inexpugnável.

Forças americanas em terra e mar estão cautelosamente ajudando a derrubar mísseis iranianos, com ênfase na parte da cautela. Israel, obviamente, gostaria que os Estados Unidos entrassem com força total – o que pode ser melhor para um pequeno país cercado de inimigos do que ter a maior potência da história a seu lado? Além disso, só o arsenal americano tem bombas suficientemente poderosas para penetrar dezenas de metros nas montanhas onde o Irã protege parte de sua infraestrutura nuclear.

Por enquanto, e apesar do falatório em contrário, o Irã está tomando cuidado para que isso não aconteça. Nenhuma base americana na região, principalmente no Iraque, foi atacada. O Irã só teria a perder se os Estados Unidos entrassem com força no conflito, mas não está eliminada a hipótese suicida: ir para o martírio, tão cultivado pela ideologia religiosa extremista, e levar o que puder da região junto, atacando em especial as instalações petrolíferas.

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POUCO E TARDE

Apesar das cenas chocantes de prédios inteiros destruídos em Tel Aviv e Teerã, o conflito é relativamente controlado. Tem muito espaço para piorar. Uma fonte do Jerusalem Post disse que o Irã fez contatos com Omã e Catar para conseguir uma intervenção americana que interrompa os ataques israelenses. Em troca, seriam retomadas as conversações sobre um acordo nuclear.

Talvez seja pouco demais e tarde demais. Donald Trump postou que “poderíamos facilmente chegar a um acordo entre Irã e Israel e acabar com esse conflito cruento”. Na verdade, não poderiam. A dinâmica desencadeada por Israel ao desfechar o ataque que foi cogitado e planejado ao longo de mais de vinte anos não acaba facilmente, com promessas de negociações. Não existem condições políticas para isso.

Por incrível que pareça, também no Irã existe uma linha mais dura ainda segundo a qual as respostas do país foram fracas e é preciso ir para a opção maximalista.

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Os serviços de inteligência de Israel calculam que o Irã ainda tem cerca de dois mil mísseis. Humilhado com a morte dos generais quando dormiam em suas coberturas e com a extensa infiltração do Mossad, que contrabandeou e montou drones sob as barbas dos aiatolás e continua a operar no país, o regime iraniano dificilmente deixará de usá-los. Está muito perto de lutar não contra Israel, mas pela própria sobrevivência.

Ironicamente, segundo fontes da agência Reuters, Donald Trump vetou um plano de Israel para eliminar o líder supremo, Ali Khamenei. Palavras literais do presidente: “Os iranianos já mataram algum americano? Não. Até que façam isso, não vamos nem falar em ir atrás das lideranças políticas”.

Imaginem só a ironia: a segurança do aiatolá de 86 anos hoje depende de Trump.

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