A ‘outra’ de Brad Pitt e o poder das teorias conspiratórias
Atriz francesa cujo nome foi envolvido na separação de Angelina Jolie defendeu tese maluca sobre o 11 de Setembro

Pobre Marion Cotillard. Ou será que ela está apenas pagando karma? Seja qual for a opção, a atriz vai passar uma parte de sua vida desmentindo a teoria de que foi por causa dela que Angelina Jolie entrou com o pedido de divórcio de Brad Pitt, provavelmente a mais momentosa separação do mundo do cinema desde o tempo do casal Elizabeth Taylor e Richard Burton.
Um resumo mínimo dos fatos. Ela fez cenas tórridas num filme que protagoniza com Brad Pitt e, quando a separação se tornou pública, foi logo apontada como a “outra”. Os precedentes dele, de casos com atrizes com quem contracenou, incluindo a própria Angelina, quando ainda era casado com Jennifer Aniston, ajudaram nas especulações.
A atriz francesa, que vive há quase dez anos com o diretor Guillaume Canet, com quem tem um filho, é experiente em versões que se tornam “fatos” em escala muito maior. Numa entrevista a um programa de televisão em 2007, muito divulgada depois que ela ganhou o Oscar por seu papel como Edith Piaff, ela se declarou adepta de teorias conspiratórias em dois dos casos mais clássicos do gênero: a chegada à Lua e os atentados de 11 de setembro de 2001.
Sobre a queda das Torres Gêmeas, flechadas pelos aviões sequestrados por militantes da Al Qaida, Marion disse que “seria muito mais caro” reformar os prédios para modernizá-los do que botar aquilo tudo abaixo.
É uma tese formidavelmente idiota, mas tem o mérito de não apelar aos “culpados” habituais: uma trama do próprio governo Bush, da CIA, de uma ala do Pentágono ou do Mossad.
Esta última, sempre acompanhada da pergunta de quantos judeus morreram entre as 2606 vítimas, em terra, no World Trade Center. Dar os números – entre 270 e 400 – e os nomes – entre os quais, três Goldsteins, mais três Rosenbaums, dois Rosenthals, entre outros sobrenomes característicos – não adianta em nada.
É da própria natureza das teorias da conspiração tem falsas explicações para tudo, nem que sejam absurdas. Aliás, quanto mais absurdas, maior seu poder de convencimento.
Existe, obviamente, uma diferença entre os seguidores entusiásticos do conspiracionismo e os saudavelmente incrédulos das explicações oficiais. Sem contar que a vida real pode, no clichê famoso, ser mais incrível do que a ficção.
Como não desconfiar de que John Kennedy tenha sido realmente assassinado por uma bala de trajetória sinuosa disparada por um ex-fuzileiro naval que havia morado na União Soviética (e que foi morto logo em seguida por um dono de boate – judeu, “evidentemente”)? Ou não se espantar diante da queda rápida e catastrófica das Torres Gêmeas, sem falar no avião jogado contra o Pentágono?
A França de Marion Cotillard sempre foi território fértil para as teorias com roupagens mais elaboradas. O livro 11 de Setembro, Uma Terrível Farsa, lançado em 2002, foi o mais vendido durante várias semanas. Seu autor, Thierry Meyssan, depois criou a Rede Voltaire, que costuma enganar incautos desinformados sobre suas ligações com a propaganda russa.
Só estas duas palavras, “propaganda” e “russa”, já dão arrepios em quem se propõe a desafiar os conspiracionistas. Por um motivo simples: é da natureza da propaganda, tal como praticada pelos serviços secretos, dentre os quais os russos sempre foram mestres, espalhar notícias falsas. É claro que quem consegue detectá-las sempre pode ser acusado de estar cedendo ao conspiracionismo.
Espalhar explicações malucas é comum nos dois extremos do espectro político. Atualmente, o conspiracionismo de direita prospera nos Estados Unidos como poucas vezes antes devido ao surpreendente sucesso da candidatura de Donald Trump.
Além de ter praticamente se lançado na política com uma teoria conspiratória, a de que Barack Obama não é americano nato (embora, com razão, diga que a raízes dessa tese foram espalhadas durante a primeira campanha presidencial de Hillary, em 2008), Trump usa um dos fundamentos desse tipo de pensamento: o de que um pequeno grupo controla os acontecimentos mundiais, em detrimento da massa ignara.
Trump e seus adeptos usam a palavra “globalista” para designar as elites que conspiram contra os pobres americanos que só querem trabalhar e louvar a bandeira nacional. Outros grupos, reais ou fictícios (ou uma mistura de ambos) que vão e voltam nessas teorias são Comissão Trilateral, Davos, Bilderberg, Bohemian Grove (outra concentração de ricos, famosos e poderosos) e os onipresentes Iluminatti. Sem contar CIA e Mossad, claro.
Nos Estados Unidos, os grupos que defendem a busca da “verdade” sobre o 11 de Setembro são chamados de truthers. Os que continuam a contestar o lugar de nascimento de Obama, área da qual Trump espertamente caiu fora, são os birthers.
Para contestar as dúvidas sobre o estado de saúde de Hillary Clinton, a imprensa favorável a ela criou o termo healthers. Por falta de sorte – ou seria castigo aos que desafiam as regras básicas do jornalismo? – logo depois ela passou mal em público e foi obrigada a revelar uma pneumonia que tentava ocultar.
Como os relógios quebrados, as teorias conspiratórias, por pelo menos uma versão amenizada delas, eventualmente estão certas. Angelina Jolie que se prepare.