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(Sem título. Sobre ‘Ensaio sobre a Cegueira’)

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Por Redação
Atualizado em 31 jul 2020, 14h30 - Publicado em 18 ago 2010, 20h44

É difícil elaborar um comentário a respeito de Ensaio sobre a Cegueira sem criar um paralelo entre a obra e a intenção do seu escritor de nos passar uma mensagem. E o que José Saramago faz não é somente moralizar seu conto, mas refletir sobre as diversas arestas da sociedade contemporânea em um livro único e, não obstante, memorável.

Um dos romances de língua portuguesa mais conhecidos e aclamados pelo público, Ensaio… é a publicação onde mais – com o perdão da palavra – se enxerga o estilo de escrita de Saramago. Composto de frases eloquentes e longas e da ausência de pontos finais, o modo saramaguiano também se enfatiza por raros discursos e uma leitura veloz, que se contrapõem com os textos. É ainda a obra onde essas características estão mais harmonicamente lapidadas, e seu estilo, mais cru.

E crueza é o que não falta nas mais de trezentas páginas do livro. O romance segue durante e após os desdobramentos de uma estranha cegueira que assola uma cidade. Tal cegueira, descrita como “treva branca”, se espalha como uma epidemia, contaminando em pouco tempo todos os habitantes da cidade. Á medida que ficam cegas, essas pessoas são mantidas à distância em quarentena, e a desordem, que crescia progressivamente no início, toma conta de toda a estrutura social. O foco do romance se amplia nas consequências desse caos, e tenta se particularizar em um grupo de pessoas que lutam para sobreviver em um mundo tátil e animalesco, onde as pessoas se despem da moral e da ordem para serem guiadas pela instintiva sede de sobrevivência. Esse grupo, à despeito de sua situação, é liderado pela mulher de um médico, a única pessoa que não fica cega. É através dela que Saramago registra, através de seu estilo de escrita magistral, um mundo naturalista que, marcado pela zoomorfização de seus habitantes, possui cenários de crueldade e perturbação, vistos pela mulher e sentidos pelos outros integrantes desse grupo, como o Médico, o Homem da Venda Preta no Olho e a Moça de Óculos Escuros.

A utilização de personagens-tipo, trabalhadas de forma memorável por Gil Vicente em O Auto da Barca do Inferno séculos atrás, ganha repercussões profundas em Ensaio... E Saramago, um mestre da alegoria, que nos mostrou sua temática em obras como O Homem Duplicado e A Caverna, consolida seu domínio sobre os diferentes níveis da sociedade (sob todas as suas vertentes) em uma singular tentativa de “brincar” de Deus.

A Magnum-Opus do escritor português se fixa sobre uma imagem em especial: a dos homens que, privados da visão, se desapegam da razão e do controle sobre si mesmos e mostram todo o instinto de supervivência, que foi mantido dormente por anos de civilidade. E a lição que o Prêmio Nobel de Literatura arquiteta nos faz reavaliar o que é importante durante a nossa existência. E, acima de tudo, nos faz pensar tanto sobre a lucidez de nossos atos como as consequências que eles provocam, de forma cega ou não, em nós e nos que estão ao nosso redor.

Rodrigo Ferrarezi

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