(Sem título. Sobre ‘Amanhecer’)
Amanhecer é o quarto e último livro da saga Crepúsculo, o fenômeno mundial que Stephenie Meyer, uma dona de casa americana, mãe de três filhos, que nunca havia escrito nem mesmo um conto em sua vida, trouxe ao mundo a partir de um sonho numa noite de verão. Sendo a fantasia noturna real ou mais […]
Amanhecer é o quarto e último livro da saga Crepúsculo, o fenômeno mundial que Stephenie Meyer, uma dona de casa americana, mãe de três filhos, que nunca havia escrito nem mesmo um conto em sua vida, trouxe ao mundo a partir de um sonho numa noite de verão. Sendo a fantasia noturna real ou mais uma invenção da autora, verdade é que os frutos da imaginação multimilionária de Stephenie – Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer – marcaram uma geração de leitores ávidos pelo mundo sobrenatural onde habitam criaturas fascinantes, o cenário perfeito onde a mera mortal Bella se divide entre o charmoso vampiro Edward e o lobisomem-camarada Jacob.
Embora Stephenie tenha prometido lançar Midnight Sun, a história de Crepúsculo narrada sob o ponto de vista de Edward, Amanhecer põe fim à saga contada por Bella. Com ela, enfrentamos amores, desamores e experiências de quase-morte nos três primeiros livros, mas é no quarto que a narrativa se amarra e tem seu ponto final. A maior diferença é que, neste, há uma seção no meio do livro onde a história é narrada sob a perspectiva de Jacob, mas isso não modifica o fio condutor da história, que continua sendo Bella, o objeto de desejo não necessariamente de gregos e troianos, mas definitivamente de vampiros e lobisomens.
Amanhecer começa com a protagonista às voltas com os preparativos para seu casamento com Edward. Nervosa, a noiva não enxerga a necessidade de oficializar o matrimônio, uma vez que em pouco tempo se tornará, também, uma imortal, e nem mesmo a eternidade parece suficiente para suportar seu amor quase suicida. Entretanto, esta é a exigência de Edward, o virgem de cem anos, um cavalheiro, literalmente, a moda antiga, para que pudesse desvirginar Bella. O que acaba acontecendo, na lua de mel que os dois passam em uma ilha na costa do Rio de Janeiro – um lugar, aparentemente, mais quente do que até um vampiro pode suportar, e que guarda lendas e mitos de tribos indígenas que ainda habitam por lá. De início, Edward fica chateado por deixar Bella cheia de hematomas, devido a sua força sobre-humana, mas logo encontram uma maneira para amarem-se perfeitamente. Até que o improvável acontece. Improvável mesmo, contando que, quando virou vampiro, Edward teve todo sangue de seu corpo substituído por veneno, tornando-se um morto-vivo livre de quaisquer fluidos humanos. Mas vá lá, entremos na fantasia: Bella fica grávida. Uma gravidez complicada, na qual o feto cresce e nasce em um mês e mostra, ainda dentro da barriga de mamãe, afeição por sangue e dotes mágicos especiais. O nascimento de Renesmee (sim, Bella é criativa no que diz respeito a nomes) abala as estruturas do mundo sobrenatural. Enquanto acompanhamos, também, a transformação de Bella em uma vampira super poderosa, lobisomens e vampiros unem-se para salvar a ingênua e adorável bebê das garras dos Volturi, os vilões aos olhos de Bella, que consideram as crianças imortais a escória dos dois mundos, e vão mais uma vez à pacata Forks para certificarem-se de que a lei será cumprida.
A crueza literária de Stephenie faz com que a autora apele para soluções fáceis durante todo o livro. É quase como se ela se visse obrigada a todo custo a solucionar o que ainda estava em aberto, afinal, não haverá outro livro no qual ela poderá explicar as pendências, e o faz de qualquer maneira, sem muito compromisso, forçando as peças a se encaixarem. Não é uma narrativa fluida, enfim. Dessa forma, com passagens baratas como “-Eu não fora muito observadora nas últimas semanas, mas nesse momento foi como se eu soubesse o tempo todo”, nas últimas páginas do livro, e “-E você nunca falou isso por que? – Porque o assunto nunca surgiu”, quando confronta-se no final com uma solução instantânea para um problema, deixando-nos na dúvida se o tal “assunto” não poderia mesmo ter surgido antes, em três livros antecedentes, Stephenie cambaleia pelos acontecimentos, agarrando-se no sucesso já conquistado para garantir o grand finale. Poderia, entretanto, poupar-nos do verdadeiro show de horrores que é o nascimento de Renesmee quando, depois de a pequena monstrinha quebrar a bacia e a coluna de sua mãe, um desesperado Edward realiza uma cesariana com seus dentes, dá uma injeção no coração de Bella e lambe as feridas da amada para manter o veneno dentro de seu corpo e garantir sua transformação vampiresca, num banho de sangue desnecessário que é preciso ter estômago forte pra ler. Além disso, Bella torna-se uma vampira com poderes super especiais, para compensar uma vida mortal sem graça, e salvar todos os demais vampiros muito mais experientes no que deveria ser o clímax do livro, mas que conta, também, com uma solução arrastada, fácil e pouco convincente. Entretanto, Stephenie manteve em Amanhecer a mesma leitura fácil e a narrativa intrigante sobre um mundo desconhecido e fantástico que tanta curiosidade desperta. Além disso, os leitores da saga estão curiosos para saber os finais de seus personagens preferidos, e mais um ponto positivo para autora quando nos oferece uma perspectiva diferente ao deixar Jacob contar um pouco da história que sempre foi de Bella. No fim, Amanhecer não se pretende um primor literário, mas o fechamento com chave de ouro de um fenômeno mundial, e consegue atender às expectativas de fãs que, anos antes, já se apaixonaram pelos Cullen, pelos Black, e por um mundo sobrenatural por si só suscetível de encantar.
Carolina Pavanelli