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Reinaldo Moraes, um marginal entre as celebridades literárias

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Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2018, 23h59 - Publicado em 5 ago 2010, 15h12

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Ele considera a fama de marginal uma “baboseira”. E afirma que a literatura “é a pátria da diversidade”. Mesmo assim, não dá para negar que o escritor paulista Reinaldo Moraes, 60, é figura destoante entre as celebridades literárias que povoam a programação da Flip. Não usa palavras rebuscadas, assume que não lê uma série de coisas e evita abastecer com aspas fortes os debates do momento – como aquele iniciado por um crítico americano que decretou falecido o gênero romance.

Confira abaixo uma conversa com Reinaldo Moraes, que nesta quinta-feira participa da mesa “fábula contemporânea”, em Paraty.
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Não é irônico que você, um escritor com fama de marginal e beatnik (ainda que não goste do rótulo), participe da Flip como autor convidado? E o que dizer, então, do Lou Reed, que afinal deu pra trás, mas foi convidado e era para ser a estrela principal da Flip? Nem seria preciso repetir que essa fama de “marginal e beatnik” é uma baboseira sem fim. O Kerouac, príncipe dos prosadores beat – beatinik é um termo de gozação inventado por um jornalista americano nos anos 1950, na onda do Sputinik russo – vivia com a mamãe quando morreu, apoiava furiosamente a Guerra do Vietnã e odiava o rock, três atitudes bem pouco “bitiniques”.

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Você vai participar de uma mesa, na Flip, com escritores de estilos muito diferentes do seu: Ronaldo Correia de Brito e Beatriz Bracher. Isso significa que a literatura contemporânea não segue um único caminho? Não conheço a obra dos meus colegas de mesa e não tenho idéia se eles conhecem a minha. Mas, de qualquer forma, me parece que, em qualquer país com gente produzindo literatura, haverá por força uma diversificação natural de “caminhos”, ou seja, de opções estéticas, temáticas e, é claro, de resultados. A literatura é a pátria da diversidade. Mesmo dentro de uma só rubrica, como a de “realismo”, por exemplo, não se encontra dois autores que rezem pelos mesmos cânones ou tenham o mesmo peso artístico. Basta pensar num Flaubert e num Bukowski, por exemplo, escritores de países, épocas, intenções artísticas e qualidades totalmente diversas, mas igualmente importantes como inspiradores de vocações literárias, penso eu, apesar do velho Buk andar meio desprestigiado por estas plagas.

Você se identifica com o termo “fábula contemporânea”, que dá nome à mesa? Nunca tinha ouvido esse rótulo antes. Tem uma boa sonoridade. De fato, toda pessoa que escreve histórias com uma estrutura fabular (com enredo, personagens etc.) numa determinada época é, salvo engano, um “fabulista contemporâneo”. Até porque, como disse Raul Pompéia no primeiro parágrafo do Ateneu, “Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas.” Eis uma afirmação que o Conselheiro Acácio, o grande mestre das redundâncias e obviedades, criado por Eça de Queiroz, poderia corroborar afirmando que em todas as datas encontramos “fábulas contemporâneas”. Ora pois.

Já que estamos falando de diversidade, você acha que ainda há espaço, na literatura contemporânea, para gêneros como o regionalismo? O problema do regionalismo no Brasil é que se você leu “Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, que deu uma universalidade genial e única ao gênero, não vai mais aguentar ler nenhuma outra prosa apoiada em particularismos antropológicos e de linguagem. Fica tudo menor ou meio capenga, quando não ridículo.

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Recentemente, o crítico americano Lee Siegel disse que o romance está morto. Você concorda com ele? Como é possível o romance estar morto se os romancistas e seus leitores continuam vivos? Seriam uma confraria de zumbis?

Que novos rumos você vê para o romance? Acho que são os mesmos rumos que os romances sempre tomaram, desde Dom Quixote, digamos, dando conta do mundo dos sonhos (e dos pesadelos) e do mundo da chamada realidade concreta. Enquanto os seres humanos se comunicarem através da linguagem verbal, sempre haverá quem se interesse em reelaborar essa linguagem com intenções artísticas, seja na prosa ou na poesia, seja utilizando como suporte o papel, um palco ou uma tela, seja mimetizando a vida-como-ela-é ou inventando mundos fantásticos.

Há autores sugerindo novos rumos para a literatura? Sim. O Marcelo Mirisola, do Herói Devolvido e do Azul do Filho Morto, entre outros livros, foi capaz de criar uma sintaxe própria que dá conta das esquisitices da vida mental dos seus personagens, que são, no fundo, as mesmas de todos nós. Mas, curiosamente, em seus livros mais recentes (Joana a Contragosto e Memórias da Sauna Finlandesa) ele mesmo vem abandonando gradativamente esse rumo personalíssimo que havia criado. Enquanto isso, o Milton Hatoum consegue reciclar em seus ótimos romances – Dois Irmãos tem uma solução narrativa nada menos que genial – a velha e boa prosa realista, com altíssimo resultado artístico. Xico Sá, com sua prosa gaiata e inventiva, ao mesmo tempo coloquial e erudita, está reinventando a crônica literária no Brasil, no que segue os passos de Nelson Rodrigues, inclusive em sua paixão analítica e antropológica pelo futebol. Agora, tem muita gente escrevendo por aí que eu não conheço e nunca vou conhecer, porque simplesmente não dá tempo de ler nem sequer uma boa amostra da produção brasileira contemporânea.

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Você ficou mais de vinte anos sem publicar antes de Pornopopeia, romance que o colocou entre os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura deste ano. Vem aí um novo hiato ou você já tem em mente um novo projeto? Ando escrevendo antes, durante e depois de escrever. Para o ano que vem, tenho na agulha o romance em parte ambientado no México, do projeto Amores Expressos, da Companhia das Letras, e uma novelinha de umas cento e poucas páginas que estou acabando de revisar. Quem viver lerá.

 

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