
Raquel Carneiro
Ver Darth Vader, um dos vilões mais marcantes da história do cinema, em momentos amáveis com seus filhos na infância poderia ser estranho, não fosse o olhar irônico do quadrinista Jeffrey Brown, autor dos livros Darth Vader e Filho e A Princesinha de Darth Vader, ambos lançado em julho, e da história em quadrinhos Academia Jedi, que chegou este mês às livrarias brasileiras — todos pela editora Aleph. Nos dois primeiros, ilustrações de uma página cada mostram Vader se esforçando para cumprir as tarefas de um bom pai, que coloca os filhos para dormir na hora certa, ajuda na lição de casa e até escuta de forma paciente o desabafo de Leia, que depois de declarar seu amor a Han Solo escuta de volta um simples “eu sei”.
Já o novo livro, o primeiro de uma trilogia de mesmo nome, é uma experiência mais robusta, em que o jovem personagem Roan Novachez entra para o centro de treinamento Jedi, em Coruscant, e se torna um Padawan. Em um esquema parecido com o best-seller O Diário de um Banana, a obra ilustrada em preto e branco é narrada em formato de HQ, que se mistura com anotações, rabiscos cotidianos, cartas e recortes de jornais.
Brown começou sua carreira como autor de cartoons em 2002, quando lançou Clumsy, primeiro de uma série de livros sobre sua vida pessoal. O humor ácido, problemas de relacionamento e criticas a religião marcam algumas de suas obras aclamadas pela crítica americana. Porém, o sucesso e o cobiçado lugar na lista de mais vendidos do jornal The New York Times só veio com Star Wars e os livros citados, lançados originalmente em inglês em 2013.
Em entrevista ao site de VEJA, o quadrinista fala sobre sua paixão pelos filmes de George Lucas, o processo criativo e o que espera da nova fase da franquia:
O que te inspirou a produzir graphic novels? Eu cresci lendo revistas em quadrinhos — e, em geral, eu amo escrever e desenhar, então meu sonho era crescer e fazer HQs. Parei de desenhar durante a faculdade, mas voltei quando fiz minha pós-graduação em arte. Foi então que percebi que esse era o tipo de arte que eu queria fazer e, quem sabe, ganhar dinheiro com ela.
Os livros A Princesinha de Vader e Darth Vader e Filho são sobre paternidade. Como surgiu a ideia de colocar o vilão de uma história tão famosa na posição de pai amável? O Google me encomendou um rascunho para um possível logo comemorativo (doodle) em homenagem ao Dia dos Pais. A ideia era mostrar como seria estranho um momento típico de pai e filho entre Darth Vader e Luke. Meu filho tinha quatro anos na época. Então eu decidi fazer o Luke com quatro anos e me coloquei no lugar de Vader, como um pai e todas as suas frustrações. O Google preferiu não usar o conceito, o que acabou sendo muito bom para mim, pois eu pude transformá-lo em um livro.
Então os livros de Star Wars, de certa forma, são autobiográficos. Eu não teria conseguido fazer estes livros se não fosse um pai. Não só para usar as ideias das situações que foram desenhadas, mas também o sentimento, como as dificuldades de ser um pai, mas, mesmo assim, amando muito seus filhos.
Por fim, se identificou de alguma forma com Darth Vader? Na verdade não, acho que sou mais bonzinho (risos). Apesar de gostar da ideia de meus filhos seguirem meus passos e se voltarem para o lado sombrio da força — que é desenhar quadrinhos.
Como foi o processo de criação das ilustrações? O primeiro passo foi pensar nas situações. Algumas surgiram na mente de forma rápida e completa, enquanto outras levaram mais tempo para pensar qual momento combina melhor com qual personagem, fala e cenas dos filmes. Eu trabalhei com a editora e a Lucasfilm para eleger as melhores ideias, que depois eu desenhei. No total, cada livro levou um ano para ser feito, desde o nascimento da ideia até a finalização das artes.
George Lucas opinou em algum processo da produção dos livros? Ele não participou. Eu trabalhei com os editores da Lucasfilm. Pelo que sei, ele gostou do primeiro livro, mas não sei o quanto. Pelo menos gostou o suficiente para me deixar fazer os outros!
Star Wars é uma franquia famosa mundialmente. Sentiu alguma pressão ao parodiar a trama? Por mais estranho que pareça, não. Eu amo Star Wars e tenho uma história com a trama, então nunca me questionei sobre o que eu estava fazendo ou como eu deveria interpretar o material. Acredito que as melhores paródias são feitas com amor, familiaridade e respeito.
Está animado para a nova fase da saga no cinema? Muito! Faz bastante tempo desde a última vez que vi um filme de Star Wars no cinema, especialmente uma nova história. Acho que eu não apreciei a saga do jeito certo antes, primeiro porque eu era uma criança, e depois, com a última trilogia, existia resistência e críticas. Então agora será uma experiência especial que estou ansioso para viver.
Tem planos de escrever novos livros de Star Wars? Por enquanto, dei um tempo de Star Wars, pois estou trabalhando em uma nova série para crianças, chamada Lucy & Andy Neanderthal. Não tenho planos de fazer nada relacionado ao novo filme. Mas, com certeza, vou pensar em piadas sobre a nova fase. Agora, estou ansioso por ser, pelo menos por um tempo, apenas um fã novamente.