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Policial Raphael Montes dispara contra os colegas ‘sérios’

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Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 22h36 - Publicado em 29 jul 2015, 15h39

A literatura brasileira acordou com uma provocação nesta quarta-feira. Em sua coluna semanal no jornal O Globo, o escritor carioca Raphael Montes, autointitulado autor policial, empilha uma série de críticas aos escritores que fazem a chamada “literatura séria” — que não é de entretenimento nem de colorir nem, como no caso dele, policial. Montes é autor dos romances bem-sucedidos Dias Perfeitos (Companhia das Letras) e Suicidas (Benvirá), e tem a caminho um “romance fix up de terror” (como o próprio o define), O Vilarejo, pela Suma de Letras. Muitos autores nacionais devem se identificar com traços da caricatura desenhada por Montes — e não será de se estranhar se pipocarem respostas em redes sociais ou em outros jornais, de escritores que se sentirem atingidos pelo carioca.

Quando Montes descreve um autor pretensamente sério, por exemplo, e diz que ele é branco, de barba, acima dos 40, professor universitário ou jornalista, preferencialmente judeu, do Sul e colunista de jornal — como o própri0 Montes, vale lembrar — e que lança um livro curto a cada três ou quatro anos porque sofre para escrever, é difícil não pensar, por exemplo, no gaúcho Michel Laub, embora ele não use óculos, como recomenda o carioca àqueles que querem ser levados a sério e tenha qualidade insuspeita. “Imagem pessoal é indispensável. Tenha barba. Use óculos. Organize antologias. Assine orelhas. Ganhe prêmios. Se tiver sido traduzido, ponto extra. Se for do Sul, ponto extra. Se for judeu, ponto extra. Se for jovem e fizer sucesso, ponto extra. Se for da periferia, ponto extra. Colunista de jornal também costuma pegar bem”, escreve Raphael Montes. Até aqui, no entanto, Laub não leu ou simplesmente não caiu na provocação de Montes. Não há nada a respeito em seus perfis nas redes sociais ou em seu blog.

Raphael Montes não deixa de ter razão em alguns pontos, como quando ecoa os chavões utilizados pelos escritores ditos sérios, alguns que parecem saídos da boca de estudantes da FFLCH, a escola de humanidades da USP. “Em qualquer entrevista, responda com três ou quatro dos conceitos destacados a seguir: você busca tratar da ‘realidade do indizível’, enxerga sua voz numa ‘zona cinzenta’ entre a ‘reflexão do ser em si mesmo’ e a ‘representação da experiência humana’. Com sua obra, você pretende ‘desnudar os limites da autoanálise’ e a ‘prática formal da arte’, enquanto explora as ‘instâncias sociais’ e a ‘barbárie em fragmentos’. Sua ‘fruição artística’ é ‘difusa e dolorosa’, com ‘pensamentos que dissecam a alma’ e enfrentam o ‘objeto estético’. Por fim, use aleatoriamente palavras como ‘hibridez’, ‘estilo’, ‘autoficção’, ‘ausência’, ‘dialética’ e ‘fronteiriça’.”

Mas Montes também deixa transparecer um bocado — sem trocadilho — de mágoa em passagens em que parece citar a si mesmo. Como quando escreve “Evite vender mais do que dez mil exemplares” ou menciona entre as referências que um autor sério jamais deve evocar em uma entrevista nomes como Agatha Christie, Stephen King e Sidney Sheldon. “Diga o que tem que ser dito: seu trabalho dialoga com Lispector, tem tons de Cortázar e nuances de Saramago, mas, no fim das contas, você acredita ter voz própria — então, lance o desafio: ‘Espero que a crítica consiga compreender meu trabalho melhor do que eu’”, recomenda com ironia. E também quando enfileira técnicas que os “sérios” juram não seguir. “Conceitos como ‘arquitetura da trama’, ‘plot-twist’ e ‘ganchos de capítulos’ estão absolutamente vetados. O verdadeiro escritor de literatura séria não se preocupa em contar boas histórias. Esta arte menor e confortável deve ser deixada para os novelistas, para os dramaturgos e para os autores de ‘literatura’ de entretenimento — sabe aqueles que escrevem livros de vampiros com câncer que curtem sexo sadomasoquista para colorir? Então.”

A discussão tem tópicos válidos — afinal, qual o problema de se investir mais em trama, viradas e ganchos para contar uma boa história, itens de fato rechaçados hoje? Mas também equivocados: não é nem deve ser o número de cópias vendidas o marcador de qualidade de um autor, para ficar em um único exemplo. E o que Montes não leva em conta é que essa divisão que ele questiona, entre a literatura de entretenimento e a dita séria, é anterior aos autores em quem ele pode ter se inspirado para a sua coluna: eventos de envergadura como a Flip já vêm mitigando a separação, ao abrir espaço para autores policiais — a última edição da festa de Paraty recebeu Sophie Hannah, a herdeira literária de Agatha Christie. E se deve mais ao conteúdo do que à forma: tanto faz se um romance trata de um crime e se tem trama, desde que leve o leitor a algo além, em linguagem ou em pensamento, de uma simples história.

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