
“1 mensagem para o Cara-da-jaqueta-de-couro. 0 mensagens do Cara-da-jaqueta-de-couro. 0 palavras escritas no roteiro. 2 regras do namoro violadas.” Sim, Bridget Jones está de volta com o diário em que anota a ansiedade com os relacionamentos, o número de calorias e a quantidade de álcool digerida. A diferença é que ela trocou os cigarros por gomas de mascar com nicotina, viciou-se no Twitter e incorporou um novo tema: suas inseguranças no papel de mãe solteira. Em Bridget Jones – Louca pelo Garoto (tradução de Ana Ban, Julia Romeu e Renato Prelorentzou, Companhia das Letras, 440 páginas, 34,50 reais na versão impressa e 23,50 reais na versão e-book), que acaba de desembarcar no país, a heroína comum criada pela inglesa Helen Fielding está viúva – sim, Mark Darcy morreu – aos 51 anos, com dois filhos pequenos, Billy, de 7 anos, e Mabel, de 5, para criar. E com toda aquela vontade de movimentar sua vida pessoal e sexual.
O diário começa em abril de 2013, mas o leitor é conduzido às páginas escritas por Bridget um ano antes, quando seus amigos inseparáveis, Jude, Talitha e Tom, tentam convencê-la a deixar para trás o luto que já dura quatro anos. “Luto à parte, a Bridget perdeu, ou digamos, não sabe onde colocou, sua visão de si mesma como um ser sexual. E é nosso dever ajudá-la a reencontrá-la”, diz a Talitha. Bridget acredita mesmo que perdeu o traquejo para paquerar, sente-se culpada por Mark e pelas crianças e percebe que o mundo mudou muito desde a última vez em que tentou conquistar um homem. Em plena era da internet, ela não está nas redes sociais e não sabe como funcionam os sites de namoro. Sua incursão pelo mundo virtual começa pelo Twitter. “7h06: Sinto que sou parte de uma imensa revolução social e que sou jovem. Talvez da noite para o dia tenham aparecido milhares de pessoas me seguindo! Milhões! Mal posso esperar pra ver quanta gente apareceu para me seguir!! (…) 23h45: Acabei de ser colocada na lista especial do Twitter por checar se tinha alguém me seguindo cento e cinquenta vezes em uma hora.”
A experiência de Bridget no Twitter é das partes mais engraçadas do romance. Junto com as calorias, as bebidas alcoólicas e as gomas de nicotina, ela também contabiliza os seguidores conquistados e perdidos no microblog. “Quem quer me seguir no Twitter?” é uma de suas perguntas recorrentes, feita a todos, desde os amigos até a funcionária da clínica de obesidade – ela chegou aos 80 quilos e quer emagrecer. A internet e a troca de mensagens pelo celular tornam-se obsessões e Bridget dá um jeito de tuitar ou de enviar uma mensagem de texto mesmo quando está nas situações mais inadequadas, como em uma reunião de negócios. “Percebo que o Twitter tem péssimo efeito sobre o meu caráter, porque me deixa obcecada com o número de seguidores que eu tenho, e também acanhada e arrependida assim que posto qualquer coisa, e culpada se não informo um acontecimento menor da minha vida para os seguidores, e isso faz com que alguns deles desapareçam imediatamente.” Entre seus temas favoritos para postagens, estão dicas sobre relacionamentos extraídas da montanha de livros de autoajuda que consome. O que os Homens Querem, O que os Homens Secretamente Querem, O que os Homens Querem Mesmo ou O que os Homens Querem na Verdade fazem parte de sua biblioteca.
Mas a Bridget atual não é apenas engraçada, desastrada ou desorganizada com a rotina dos filhos – que, aliás, riem bastante dela e percebem que têm uma mãe, digamos, diferente. Ela é também bem mais pungente que a anterior. Ela se emociona com as crianças, com quem às vezes perde a paciência e às vezes se diverte, e sente ainda uma dor profunda pela morte de Mark. É até possível que o leitor derrame algumas lágrimas em certos momentos. Mas, por sorte, o que prevalece é o bom humor. Do primeiro encontro que consegue com o Cara-da-jaqueta-de-couro que ela conheceu em um bar, Bridget chega a uma regra importante para a sua lista sobre o que não fazer em um namoro ou na tentativa de começar um: nunca faça com que o cara se sinta encurralado. “Se a gente transar, você promete que vai me ligar e me ver de novo, ou quem sabe a gente pode marcar o próximo encontro agora? Aí, não temos que nos preocupar mais com isso.” Depois de quase desistir de encontrar alguém, Bridget conhece Roxster, de 29 anos, divertido e bonitão, figura importante em sua tentativa de voltar a ter uma vida sexual e amorosa.
Com as crianças, a situação também é bagunçada. Ela não consegue se planejar para que eles não cheguem atrasados à escola nem para fazer os deveres de casa do fim de semana antes do domingo à noite. Faz tabelas que gruda na geladeira sobre como se organizar e, claro, lê livros de dicas e autoajuda. “Cuidar de duas crianças vai ser fácil já que eu li Um, Dois, Três dos Pais Mais Calmos, que ensina que tudo depende de simplesmente dar dois avisos e uma consequência, e também Crianças Francesas Não Fazem Manha, que explica que as crianças francesas funcionam dentro de um cadre, que é um pouco como na escola, com um círculo interno estruturado onde elas sabem quais são as regras (e se não cumprirem você simplesmente faz como manda o Um, Dois, Três dos Pais Mais Calmos) e, quando você está fora dele, não precisa se preocupar muito e pode usar roupas francesas elegantes e fazer sexo”.
Os dois livros anteriores, O Diário de Bridget Jones (1996) e Bridget Jones, no Limite da Razão (1999), passaram de 15 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Levados ao cinema nos anos 2000, aumentaram ainda mais a legião de fãs da personagem, vivida por Renée Zellweger. O novo livro também chegará ao cinema e Colin Firth deve aparecer como Mark Darcy apenas em flashbacks. Hugh Grant voltará no papel do canastrão Daniel Cleaver, agora bem decadente. As novidades ficam por conta dos personagens Roxster e Wallaker. Especula-se que o primeiro será vivido por ninguém menos que Ryan Gosling. Sobre Wallaker, professor da escola onde Billy estuda e personagem preponderante na história, Helen Fielding já declarou que sonha com Daniel Craig. Ok, pode-se afirmar que os dois bonitões sejam homens idealizados, mas se não fossem, não estaríamos falando de Bridget Jones.
A morte de Mark Darcy durante um trabalho humanitário no Sudão foi recebida com comoção pelos fãs de Bridget Jones. Mas a opção de Helen Fielding parece acertada. Se o casal se separasse, a aura de herói romântico de Mark, tão bem trabalhada nos livros anteriores, viria abaixo. Se eles continuassem casados, Fielding não teria a chance de escrever sobre as experiências amorosas e sexuais de alguém na meia-idade – termo que Bridget e seus amigos, aliás, odeiam. Suzanne Moore, colunista do jornal inglês The Guardian, publicou um artigo em que diz que odeia Bridget Jones porque ela é insípida, consumista e obcecada consigo mesma, além de ser antifeminista. Não deviam levar Bridget Jones tão a sério. Ela é apenas personagem de uma comédia romântica que sonha com um final feliz. Às vezes, ela parece uma adolescente totalmente superficial, mas em boa parte desse último romance, o seu cinismo e a graça com que tenta lidar com a insegurança e as cobranças alheias dão algumas pistas para se pensar sobre os estereótipos femininos. Afinal, como são as mulheres de 50 anos dos dias de hoje?