Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

VEJA Meus Livros

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um presente para quem ama os livros, e não sai da internet.

Nos embalos de Zorbás, o grego

.

Por Simone Costa
Atualizado em 13 ago 2018, 22h11 - Publicado em 24 jul 2011, 10h25

kazantzakis1“Pode me levar junto? Sei fazer umas sopas.” É com frases assim que Aléxis Zorbás entra na vida de um jovem intelectual grego prestes a partir para Creta, onde vai explorar uma mina de linhito. Aquele homem com o rosto “cheio de rugas, carcomido, esburacado, como se o sol, o vento e as chuvas o tivessem devorado” passa a ser, então, um importante contraponto para o jovem que quer deixar de ser apenas um “roedor de papéis”, em Vida e Proezas de Aléxis Zorbás (tradução de Marisa Ribeiro Donatiello e Silvia Ricardino, Grua, 384 páginas, 53 reais). Relançada no país, a clássica história de Zorbás, de Nikos Kazantzákis (1883-1957), tem agora uma tradução direta do grego – por isso Zorbás e não Zorba, como nas traduções anteriores a partir do francês e do inglês.

Publicado pela primeira vez em 1946, o livro transporta o leitor para um vilarejo na exuberante ilha de Creta, às margens do Mar Egeu. Depois de se encantar com a rudeza e a simplicidade de Zorbás, o jovem escritor decide levá-lo não só para auxiliá-lo na exploração do linhito, mas principalmente para ser sua companhia, porque aquele era a espécime humana que procurava havia muito. “Um espírito vivaz, uma fala calorosa, uma grande alma bruta que ainda não cortara o cordão umbilical com sua mãe, a Terra.” Enquanto o escritor lia Dante ou os ensinamentos de Buda, Zorbás dançava ou tocava seu santir. A dança, aliás, era a maneira que esse grego, de aparentes 65 anos, havia encontrado para demonstrar seus sentimentos.

Escrito em primeira pessoa, o texto é como um diário do jovem escritor sobre o tempo despendido ao lado de Zorbás. Não é necessariamente uma narração de aventuras. As proezas vividas por Zorbás são contadas por ele mesmo, enquanto discute alguma questão com o narrador, a quem tenta mostrar que é possível viver de maneira menos enfadonha. Entremeando questionamentos filosóficos sobre a existência com as histórias vividas por Zorbás, o narrador trata do que não poderia ser mais humano: a passagem do tempo e a angústia de não conseguir, de fato, viver.

“Sabia que Zorbás tinha razão, eu sabia, mas não ousava. Minha vida tomara um rumo torto (…) Decaíra tanto que, se precisasse escolher entre me enamorar de uma mulher ou ler um bom livro sobre o amor, eu escolheria o livro”, reflete o narrador, que, infelizmente, não deixa de cair em lugares-comuns para falar sobre o tema. “Para todos os homens, essa vida é única, não há outra, tudo aquilo que se pode desfrutar será desfrutado aqui, ela passa rapidamente e não nos será dado outro ensejo na eternidade.” A sorte, em contraponto aos clichês, é que sempre está lá Zorbás para brindar o leitor com boas comparações. “Patrão, é preciso que você saiba que Deus é um grande fidalgo, e fidalguia é isto: perdoar!”

Nikos Kazantzákis, considerado o mais importante escritor grego do século XX, escolheu sua Creta natal para ambientar o romance. Mas osvida-proeza-alexis-zorbas-capa acontecimentos reais que lhe inspiraram Zorbás deram-se na Messênia, no sul do Peloponeso, para onde foi, assim como o narrador do livro, explorar uma mina, por volta de 1917. Foi aí que conheceu o macedônio Yióryis Zorbás, que se tornou seu amigo e um dos personagens mais importantes da literatura moderna.

Continua após a publicidade

Também real é o amigo Stavridákis, que no começo do livro é o homem que caracteriza o narrador como “roedor de papéis”, levando-o a mudar o rumo de sua vida. Stavridákis foi diplomata de carreira e junto com Kazantzákis, então ministro da Previdência e Assistência Social da Grécia, e Yióryis Zorbás repatriaram 150.000 gregos estabelecidos no Cáucaso, onde eram perseguidos pelos revolucionários russos na segunda década do século passado. Questões políticas e uma certa crítica ao nacionalismo perpassam a história. Zorbás, por exemplo, diz que pela pátria matou, roubou, incendiou aldeias. “Afinal, eu criei juízo, agora olho para os homens e digo: ‘Esse é um bom homem, aquele é mau’. Não interessa se é búlgaro ou grego, para mim dá no mesmo.”

Questões políticas também são citadas como a causa de o autor ter perdido o Nobel de Literatura para Albert Camus, em 1957. Há a suspeita de que a diplomacia grega tenha interferido para que ele fosse preterido ao considerá-lo comunista. Autor de dezenas de livros, que incluem ensaios filosóficos, guias de viagens, além de traduções para o grego de títulos como a da Divina Comédia, de Dante, e Fausto, de Goethe, Kazantzákis construiu um personagem que se tornou maior que ele. Levado ao cinema em 1964 pelo diretor Mihalis Kakogiannis, Zorbás, o Grego tornou-se universal. No filme, o personagem ganha corpo na excelente interpretação de Anthony Quinn. Vencedor de três Oscar, entre eles o de melhor atriz coadjuvante para Lila Kedrova, no papel de Madame Hortense, a velha francesa que se apaixona por Zorbás, o filme tem o poder de traduzir perfeitamente a desenvoltura corporal de Zorbás. Ele simplesmente dança e diz: “Afinal de contas, o homem não pode fazer nada sem um porquê? Assim, só pelo prazer”.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.