Flip volta à ficção com Antonio Cândido e David Byrne

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deixa de lado o academicismo que caracterizou sua edição anterior, dedicada à obra do antropólogo Gilberto Freyre, e volta a investir com força na ficção. A retomada é apoiada pela participação do crítico Antonio Cândido, que faz a conferência de abertura do evento, sobre o homenageado Oswald de Andrade – no ano passado, a função coube ao ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Outro destaque desta edição e contraponto à de 2010, embora não exatamente ligado à prosa ficcional, é o escocês David Byrne. Além de músico, Byrne escreve livros, e vem ao Brasil falar de livros como Diários de Bicicleta, o último que lançou, sobre suas experiências ao guidão.

A 9ª Flip acontece de 6 a 19 de julho. Com orçamento de 6,8 milhões de reais, terá 29 autores, de 13 países, discutindo sobre romance, filosofia, ciência e urbanismo em dezoito mesas. A participação estrangeira é grande e feita principalmente de escritores de língua latina, mas sofreu baixas importantes. Após o cancelamento da vinda dos autores Michel Houellebecq e Franco Moretti, o americano David Remnick, editor da New Yorker e autor da biografia de Barack Obama, também anunciou que não virá para este festival.

A participação de Antônio Cândido foi anunciada nesta quinta-feira, em entrevista coletiva comandada por Manuel da Costa Pinto, curador do evento. Segundo Costa Pinto, a ida de Cândido só foi possível pela ajuda de Marília de Andrade, filha do homenageado deste ano, o modernista Oswald de Andrade. Cândido era amigo próximo de Oswald e aceitou participar em consideração ao amigo, do qual falará em sua apresentação. “Ele está num momento de reclusão. Vai ser difícil para ele, que não gosta de falar em público”, disse.

Oswald de Andrade foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922 e assinou o Manifesto Antropofágico, em que propunha uma recriação da cultura brasileira sem abrir mão da influência estrangeira benéfica. A homenagem a ele, no ano que precede os 90 anos da Semana de 22, serve para lançar as sementes das discussões sobre a antropofagia.

Além da conferência inaugural, feita por Cândido, que será amparado por José Miguel Wisnik, duas mesas debaterão a obra de Oswald, com a presença de Gonçalo Aguilar e Marcia Camargo em uma, e Eduardo Sterzi e Joao Cezar Rocha em outra.

Retomada da ficção – Nas outras mesas, o destaque fica por conta da ênfase na ficção que, segundo Manuel, será o gênero mais discutido dessa edição – ao contrário do ano passado, quando a discussão foi mais acadêmica. O brasileiro João Ubaldo Ribeiro, que representa o ápice do romance na literatura brasileira, é um do maiores nomes da festa. Outra vertente do romance, mais alegórica, e que experimenta com o ambiente ficcional será representada por Pola Oloixarac e Valter Hugo Mãe, na mesa Pontos de Fuga.

Apesar do foco no romance, a Flip não deixará de lado os tradicionais debates sobre temas universais: na quinta-feira, 7, na mesa “o humano além do humano”, o médico neurocientista Miguel Nicolelis e o filósofo Luiz Felipe Pondé discutirão as divergências e confluências entre ciência, filosofia e arte.

Confirmado nessa quarta-feira, o músico David Byrne comandará a discussão sobre urbanismo sustentável e transporte público. Famoso por ter fundado a banda Talking Heads, em 1974, David Byrne também é escritor – seu último livro publicado no Brasil foi Diários de Bicicleta (2009). Essa mesa complementa a mesa Zé Kleber, que abre a programação no dia 7 de julho. Aberta a comunidade paritiense – com entrada gratuita – e com a presença das francesas Michele Petit e Dominique Gauzin-Muller, a mesa vai propor a discussão sobre questões locais, como a importância de ter equipamentos urbanos planejados para um desenvolvimento urbano sustentável em cidades como Paraty.

Em relação à configuração do espaço, há novidades. A Tenda do Telão (onde os debates são transmitidos ao vivo) será transferida para junto da Tenda dos Autores, do outro lado do rio Perequê-Açu,dando mais espaço para a Flipinha e para a Flipzona, ao lado da Praça Matriz.

Beatriz Souza

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• Flip 2019 - Festa Literária Internacional de Paraty