Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

VEJA Meus Livros

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um presente para quem ama os livros, e não sai da internet.

Escolha de Mo Yan para o Nobel tem peso político

A China vê sua economia crescer a taxas de dois dígitos ao ano, sustentada pelo trabalho escravo de milhões e por outras contradições, e o Nobel de Literatura vai justamente para um escritor que se dedica a criticar as incongruências da sociedade chinesa. A escolha da Academia Sueca em 2012, se não chega a surpreender, […]

Por Redação Atualizado em 31 jul 2020, 07h39 - Publicado em 11 out 2012, 11h34

mo-yan-3

A China vê sua economia crescer a taxas de dois dígitos ao ano, sustentada pelo trabalho escravo de milhões e por outras contradições, e o Nobel de Literatura vai justamente para um escritor que se dedica a criticar as incongruências da sociedade chinesa. A escolha da Academia Sueca em 2012, se não chega a surpreender, já que Mo Yan, o vencedor, figurava em listas de favoritos nos últimos meses, carrega um peso político.

Em um país onde a censura ainda é reinante, a adoção de um pseudônimo que significa “não fale” — o verdadeiro nome de Mo Yan é Guan Moye — já diz muito. A utilização de um realismo que o leva a ser comparado a latino-americanos como Gabriel García Marquez, também: o realismo mágico foi uma arma encontrada por escritores latinos para driblar os censores de regimes ditatoriais e fazer críticas nos anos 1970.

É sob esse prisma que se deve ler o romance Life and Death Are Wearing Me Out (A Vida e a Morte Estão me Esgotando, em tradução livre), à venda no Brasil em edições em inglês importadas por livrarias como a Saraiva e a Cultural. No romance, Ximen Nao, um fazendeiro generoso com os camponeses que trabalham em suas terras, perde as suas propriedades e é cruelmente executado durante a reforma agrária empreendida por Mao Tse Tung em 1948. Morre jurando inocência de qualquer crime e vai para o inferno, onde Yama, o senhor do submundo, se encarrega de torturá-lo para que confesse a sua culpa — tática que é velha conhecida de regimes ditatoriais. Sem conseguir extrair dele uma confissão de culpa, Yama permite que Nao volte à vida e às suas terras, mas na forma de um animal. Nao primeiro ressurge como um burro, depois como um boi, um porco, um cachorro, um macaco, e enfim como um garoto de cabeça grande, Lan Qiansui, e é pelos olhos de cada bicho que conta a história da China na segunda metade do século XX.

A revolução cultural chinesa e a dominação comunista também são assunto de um de seus livros mais recentes, Big Breasts & Wide Hips (Seios Fartos e Ancas Largas, em tradução direta), que foi retirado de circulação na China. Aqui, o corpo feminino é usado como metáfora para falar da situação da mulher chinesa em uma sociedade, que, apesar das mudanças vividas e sofridas, continua sendo patriarcal e machista. A história é narrada pelo único homem entre os nove filhos de Mãe, personagem nascida em 1900 e testemunha das diversas transformações ocorridas na China no século XX, do fim da dinastia Qing ao comunismo, passando pela invasão japonesa nos anos 1930. O narrador é um homem mimado e inútil, em contraposição às irmãs trabalhadoras.

Continua após a publicidade

Na Feira de Frankfurt de 2009, que teve a China como país homenageado, assim como será com o Brasil em 2013, a presença de Mo Yan entre os autores convidados era apontada como prova de que o evento, o maior do meio literário em todo o mundo, não iria se limitar a mostrar uma “China oficial”.

Prêmios com peso político não são nenhuma novidade para a Academia Sueca, que nos últimos anos se pautou várias vezes por esse critério. Em 2009, o Nobel destacou a literatura de Herta Müller, uma representante da minoria alemã na Romênia que, após a queda do nazismo, passou a ser discriminada e perseguida pelo regime comunista. A escolha, em 2010, do liberal e antichavista Mario Vargas Llosa também parece ter tido viés político.

Maria Carolina Maia

Continua após a publicidade

 

Já agradecendo ao comentário do Fábio, abaixo, fazemos aqui um adendo interessante. O artista plástico Ai Weiwei, notório por suas críticas ao regime político chinês e por ele perseguido, lamentou a entrega do Nobel de Literatura a Mo Yan, porque, segundo ele, o escritor não se envolve com os problemas da China atual, como o caso do dissidente Liu Xiaobo, que venceu o Nobel da Paz de 2010 e está preso desde 2009. Assim, Yan, que a Academia Sueca chamou até de “subversivo” e que chegou a sofrer veto na China, como citado acima, é para Weiwei um escritor alinhado com o regime. Yan tem, de fato, boas relações com o mundo oficial chinês: venceu um importante prêmio no país e foi eleito vice-presidente da associação nacional de escritores. Mas, em entrevista concedida em 2008 ao jornal espanhol El País, deu a dica de como dizer o que pensa sem apanhar por isso: “Ainda há coisas que não podem ser ditas de forma direta, embora  a situação seja melhor do que no passado. E um bom escritor sabe encontrar a melhor maneira de contar o que deseja”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.