
Na entrevista coletiva de balanço da 9ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada neste domingo, o curador desta edição do evento, Manuel da Costa Pinto, comparou a atitude do documentarista e intelectual francês Claude Lanzmann, um dos convidados do encontro, a de um nazista.
Na sexta, durante a mesa A Ética da Representação, Lanzmann, que se relacionou com o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, foi seco com o mediador de sua conferência, o professor e crítico Márcio Seligmann-Silva, se negando a responder questões não diretamente relacionadas a seu livro de memórias A Lebre da Patagônia, cuja tradução está sendo lançada no Brasil. Descortês, Lanzmann, que é autor de um documentário de nove horas sobre o holocausto, Shoah (1985), disse que se sentia tratado como um “débil mental” e chegou a ameaçar deixar a tenda dos autores.
“É decepcionante que um autor do porte intelectual do Claude Lanzmann rejeite perguntas dessa natureza. Rejeitar a complexidade do debate literário e filosófico é ser um perpetrador da intelectualidade. Esse preconceito que há contra o intelectual, contra o acadêmico, é uma coisa nazista”, disse Manuel da Costa Pinto.
A comparação causou mal estar e levou a Casa Azul, organização que realiza a Flip, e a lamentar a declaração do curador. Nota distribuída à imprensa definiu como “pessoal” a posição de Costa Pinto. “A associação lamenta o uso de uma palavra inadequada em relação a um convidado cuja presença engrandeceu a Flip em 2011″, diz o texto. “A organização da Flip destaca seu habitual respeito aos escritores convidados, que representam o sucesso deste evento de celebração da literatura.”
Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que publica Lanzmann no Brasil, também se queixou das palavras de Costa Pinto, chamando-as de “equívoco”, ao que o curador admitiu ter se excedido. A Flip terminou em alta temperatura, como se vê.
Drummond 2012 – Com tantas pedras nos caminhos de Paraty, não poderia faltar entre os homenageados aquele que criou o verso “no meio do caminho tinha uma pedra”. Na coletiva de encerramento, também foi anunciado que a Flip 2012 homenageará o poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade. O diretor da Casa de Cultura e diretor geral da Flip, Mauro Munhoz, lembrou que Drummond trabalhava no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quando Paraty foi inserida em seus livros de tomo.
A Flip deste ano inaugurou um espaço no outro lado do rio Perequê, onde concentrou as duas tendas, a loja, a livraria e os espaços institucionais. Com uma urbanização agradável incluindo uma ciclovia, a ideia foi deixar o centro histórico mais livre para os visitantes da cidade. Liz Calder achou “maravilhosa” a mesa de valter hugo mãe e gostou muito de ouvir João Ubaldo Ribeiro. A questão levantada por David Byrne sobre o uso de bicicletas foi “muito importante” e tinha a ver com Paraty, “um exemplo de como os carros podem ser deixados para fora e as pessoas interagirem”, apontou a idealizadora da Flip. Esse tema, já deixou aberto o espaço para discussões sobre gestão do espaço urbano, algo que Mauro Munhoz gostaria de ver em pauta.
De acordo com a organização do evento, esta edição da festa que aconteceu entre os dias 6 e 10 de julho de 2011, recebeu entre 20 e 25 mil pessoas, contra as 20mil de 2010. Foram 139 convidados dos quais 29 internacionais. Pela Flipinha, passaram mais de 25 mil crianças. A biblioteca infantil, recebeu a visita de 15 mil crianças.A Flipzona, para os adolescentes, realizou 80 eventos. No sábado à noite, os acessos ao site que transmitia os encontros ao vivo contabilizava 62,5 mil acessos. Em 2010, segundo a organização, foram 21 mil acessos. A Flip custou R$ 6,8 milhões