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Camille Paglia: mais feminina no Brasil

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Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2018, 23h07 - Publicado em 14 nov 2010, 12h43

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Não é fácil de perceber, é só uma base, mas Camille Paglia está com as unhas pintadas. O que significa para uma mulher pintar as unhas? Para a feminista ítalo-americana de vida e obra marcadas pela questão sexual e de gênero, pintar as unhas representa pelo menos duas coisas. E nenhuma delas é atrair homens. Lésbica assumida e mesmo militante, Camille diz que desde pequena se identifica mais com a figura masculina do que com a feminina e que, nas festas de Halloween da sua infância, por exemplo, sempre se vestia com fantasias feitas para meninos, porque queria estar entre os meninos, não persegui-los. São outras questões. A primeira, e mais óbvia, é que Camille não está “censurando a sua beleza”, como, diz, as intelectuais americanas fazem. “Se eu pintar as unhas em Manhattan, não sou levada a sério como intelectual.” A segunda é que Camille está encantada pelo Brasil, paixão iniciada à primeira vista de um DVD da baiana Daniela Mercury, há dois anos. “As brasileiras são naturalmente belas, não escondem a beleza para merecer respeito, as duas coisas podem caminhar juntas aqui.”

A admiração pela mulher brasileira, e por Daniela Mercury em especial, é inversa à ojeriza que sente por Lady Gaga e Madonna. Se a musa do modelo Jesus Luz, que chegou a cultuar nos anos 1990 por sua sensualidade capaz de questionar os limites sociais impostos pela religião, é vista hoje como uma repetição da mulher robotizada que as americanas e europeias são, Lady Gaga é ainda pior. Cópia malfeita de Madonna – “Ela é falsa, é desonesta, os mais novos não percebem isso, porque não têm memória do que Madonna fez” -, ela expõe a sensualidade de maneira tão vulgar que, para Paglia, assassina o sexo. “Quem sente desejo depois de tanta exposição?”

Daniela Mercury, não. A baiana é outra história. “Esta é uma mulher e uma artista de verdade. Ela é múltipla, ela canta, ela dança, ela lidera um trio elétrico, ela faz pesquisas, ela atua em campos diversos da criação artística. E, ao mesmo tempo, é mãe, é esposa, é uma mulher normal, que parece bonita e sensual mesmo quando está de calça jeans, sem maquiagem.” A cultura popular, que para Paglia é a chave para se entender a sociedade contemporânea, é rica na Bahia e no Brasil em geral, acredita a escritora, autora de livros como Personas Sexuais, que a projetou no meio intelectual há vinte anos.

Camille Paglia veio ao Brasil pela primeira vez em meados da década de 1990, numa viagem por Rio de Janeiro e São Paulo. Mais de dez anos depois somente, graças à cultura popular baiana – leia-se o axé de Daniela Mercury – que a intelectual se sentiu fisgada pelo país. A partir daí,  vem fazendo diversas viagens ao Brasil, uma delas para marcar presença no casamento da filha de Daniela, e agora está estudando português para entender melhor a cultura local. Em Nova York, onde garimpa discos de música brasileira que a fizeram cair de amores também por Elis Regina, Maria Bethânia e Caetano Veloso, diz ter se tornado uma espécie de embaixadora do Brasil, país que está sempre promovendo. Aqui, além de pintar as unhas – mesmo reconhecendo, timidamente, que a obrigatoriedade da beleza pode se tornar uma pressão sobre a mulher brasileira -, se sente mais livre para falar com gestos e gargalhadas, longe das fisionomias sisudas de Manhattan.

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Ainda que seja um país bastante influenciado pelos Estados Unidos, o Brasil é, segundo ela, mais livre. “Aqui se pode tomar um copo de cerveja antes de dirigir”, diz. A crescente penetração do estado na esfera individual, com medidas como o combate ao fumo, é para Paglia um dos temas atualmente mais relevantes para discussão. “O estado se comporta como um pai ou uma mãe, e as pessoas gostam disso. Gostam de ter as facilidades que o estado lhes dá e por isso abrem mão de suas escolhas individuais, aceitam as regras que lhes são ditadas.”

 

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