
Sexo e sustentabilidade: uma combinação perfeita? É o que tenta provar a escritora americana Stefanie Iris Weiss em seu livro Go Green Between the Sheets and Make Your Love Life Sustainable (ainda não há título para o Brasil, mas a tradução seria algo como Eco-Sexo: Seja Verde entre os Lençóis e Faça sua Vida Amorosa Sustentável). Mas Stefanie não convence. A leitura de Eco-sex mostra que a mistura dessas palavras é apenas mais uma desculpa – ainda que bem-humorada – para voltar ao velho e supersaturado tema da sustentabilidade.
A obra é pretensiosa: um guia que busca inspirar, simultaneamente, prazeres sexuais e ecológicos. Para tanto, a autora dá dicas “verdes” que vão desde a escolha de roupas de cama e lingeries até camisinhas e brinquedos sexuais, passando ainda pelos campos de beleza e gastronomia – a afrodisíaca, claro. Após as “revoluções sexuais” das décadas de 1960 e 1990, Stefanie prega uma nova revolução: o sexo livre… de produtos químicos que prejudicam o ecossistema.
O “eco-sexo” é uma revolução sexual?
É mais do que isso. É também um jeito de as pessoas moldarem sua própria identidade, comprometidas em colaborar para um mundo mais saudável, seguro e verde – um lugar que ainda seja habitável nos próximos 50-100 anos. Nós já tivemos a primeira revolução sexual nos anos 1960, e depois tudo mudou de novo na década de 1980, com o HIV – as pessoas começaram a ficar com um pouco de medo do sexo. Agora, podemos combinar a liberdade dos anos 60 com o movimento de sexo seguro dos anos 90 – e trazer o prazer para o próximo nível, salvando o planeta e a nós mesmos simultaneamente.
Como ser “verde” no sexo?
É tão fácil! É só se preparar com antecedência. Não há razão para ser como uma professora pudica na cama – isso não seria natural, nem divertido. Mas se você reservar uma caixinha de brinquedos sexuais com itens “verdes” e os tiver sempre em mãos, mesmo se você não tem um parceiro agora, garanto que você vai estar mais apta para alcançá-lo!
Como seria o “encontro verde” ideal?
Os encontros verdes podem ser como os tradicionais. A diferença é ir até o local onde encontrará com seu futuro amante via transportes públicos, bicicleta ou a pé. E também optar por um restaurante que sirva refeições orgânicas e locais – preferencialmente vegetarianas -, por exemplo.
Como as pessoas devem usar objetos sexuais e roupas íntimas de uma forma mais sustentável?
Quanto aos brinquedos sexuais, sugiro buscar uma marca que não utilize substâncias que prejudiquem muito o meio ambiente, como a Jimmyjane, por exemplo. Os brinquedos são lindos, revolucionários e sustentáveis – são feitos de silicone. Quanto às camisinhas, procure por uma marca de látex natural, como Sir Richards ou French Letter Condoms. Para os vegans, uma boa tentativa é o Glyde Condoms, que faz as camisinhas livres de derivados do leite. Quanto às roupas íntimas, uma dica é optar pelo algodão orgânico.
No seu livro, a senhora entrevistou chefes de cozinha especializados em comida crua, para obter receitas de refeições afrodisíacas. Quais outros profissionais foram consultados para a elaboração do livro?
Muitos profissionais foram consultados. Entrevistei Ethan Imboden, produtor de brinquedos sexuais manuais; Amanda Young, chocolateira especializada em alimentos sexuais; Jared Koch, aromoterapeuta reconhecido em Los Angeles; e muitos, muitos outros.
O que de mais engraçado a senhora descobriu enquanto pesquisava para o livro?
Descobri que de fato existe um site chamado Vegporn.com. Sim, é verdade! A melhor parte é que ele é de fato interessantíssimo. Você deveria conferir!
Depois de toda a apuração, o que a senhora conclui ser a opção “eco-sexual” mais importante?
O controle de natalidade é a opção número um. Se você sabe que não quer ter filhos, deveria fazer logo a ligadura de tubas uterinas. E se você não está preparado para ter um, o DIU [Dispositivo Intra Uterino] é a segunda melhor opção.
A senhora de fato coloca o conceito “eco-sexual” em prática em seu dia a dia?
Todos os meus produtos e escolhas alimentícias são verdes. Moro em Nova York, e não tenho carro – então, minha colaboração com a poluição é relativamente pequena. Também apoio designers de moda sustentável, visto roupas vintage e escolho produtos de maquiagem e cabelo “verdes”. Na verdade, muitos dos produtos que cito no livro são os que uso no meu dia a dia. Claro que não sou perfeita – não sou vegan, apenas vegetariana, e sei que ser vegan é melhor para o planeta. Meu compromisso é tentar consumir produtos naturais. Também não tenho filhos e planejo adotar um. Também posso dizer que minha vida sexual é “verde” – mas prefiro mantê-la em segredo.
Como ser “verde” pode ajudar a conquistar um parceiro?
Você será mais saudável, magro, vibrante, bonito, jovem e sexy! Acho que os “verdes” precisam saber que nós podemos ter prazer também. Não se trata apenas de abrir mão de muitas coisas, mas de achar alternativas ainda melhores.
O que a senhora diria às pessoas que ridicularizam o conceito de “eco-sexo”? Qual é o lado sério dele?
As pessoas vão inevitavelmente fazer piadas, mas isso não me incomoda nem um pouco. Nos últimos anos, muita gente está ficando cansada de ouvir tanto sobre por que devemos salvar o mundo. O sexo vai mantê-los mais interessados, espero. O lado sério é o problema da superpopulação e suas consequências para o planeta. Eu sei que as pessoas podem não reagir bem quando eu falar de adoção e diminuição de filhos biológicos, mas essa é uma conversa que nós do Ocidente realmente temos que ter.
A senhora já escreveu mais de um livro “verde”. Por quê o forte interesse no tema?
Além do Eco-Sex, escrevi mais dois outros livros que são considerados do gênero sustentável – os outros sete foram sobre temas diversos. Um dos livros “verdes” é sobre ioga, e o outro, sobre veganismo. Sou vegetariana há vinte anos, desde que li o best-seller Dieta para um Pequeno Planeta (Diet for a Small Planet), da autora americana Frances Moore Lappé. Ele me inspirou a mudar minha dieta, mostrando as implicações da produção da carne para o nosso ecossistema. Quando eu era mais nova, fui motivada pelo Earth Day [dia em que pessoas engajadas do mundo inteiro se prontificam a telefonar para seus governantes e cobrar medidas sustentáveis] a ver como juntos podemos fazer a diferença. E eu adoro animais desde criança – eles também inspiraram minha consciência ecológica.
A senhora já disse que sempre quis escrever um livro sobre sexo. Desde o início pensou em algo ligado à sustentabilidade?
Sempre quis escrever sobre sexo, porque já imaginava que seria boa nisso! Não sou muito tímida em relação ao assunto, então me pareceu um tema natural a seguir. E acredito que tudo o que fazemos, inclusive nossos momentos mais íntimos – sozinhos e com outros – são profundamente conectados com a ideia de sustentabilidade. Sexo e sustentabilidade são uma combinação perfeita.