No começo de junho, a crítica literária americana Meghan Cox Gurdon levou a literatura infanto-juvenil a ser um dos assuntos mais comentados do Twitter nos Estados Unidos. Ela foi atacada por leitores, escritores e representantes da indústria dos livros por fazer uma dura crítica ao que se tem produzido para o público jovem americano: livros sombrios, com temas como sequestros, incesto, distúrbios alimentares e auto-mutilação.
Meghan fala de livros como The Lying Game, de Sara Chepard, Abandon, de Meg Cabot, e Between Shades of Gray, de Ruta Sepetys, que estiveram na lista dos infanto-juvenis mais vendidos do jornal New York Times nos últimos meses.
Num artigo publicado no site do The Wall Street Journal, Meghan conta a experiência de uma mulher de Maryland que foi a uma livraria à procura de um romance para presentear a filha de 13 anos e acabou saindo de mãos vazias, desanimada com a incessante escuridão dos livros da seção de infanto-juvenis.
Poucas horas depois da publicação do artigo de Meghan Cox Gurdon, ele se tornou um dos tópicos mais comentados do Twitter dos Estados Unidos. “Idiota”, “ignorante”, “irresponsável” e “condenável” foram alguns dos adjetivos usados junto ao nome da americana pelos furiosos adolescentes defensores dessa literatura infanto-juvenil. Ela chegou a ser acusada de estar argumentando contra o ato da leitura, encorajando os jovens a se afastar do hábito de ler.
Um exemplo dessa literatura dita sombria? “Eu costumava me contorcer quando ouvia pessoas falando sobre automutilação – tirar uma navalha de sua própria carne nunca me pareceu lógico. Mas na verdade é maravilhoso. Você pode cortar de você todas as frustrações que as pessoas colocam em você.” Esse trecho está na contracapa – local onde as editoras tentam ganhar os possíveis compradores – de um dos livros que se encaixam na crítica de Meghan. Para ela, está claro que o livro não é a única coisa sendo vendida aí, mas também a ideia de que a automutilação é uma saída para os problemas.
Função terapêutica – Os defensores desse tipo de literatura dizem que esse tipo de temática tem uma função terapêutica para os adolescentes que passam por dramas pessoais semelhantes. “Infanto-Juvenil salva”era a hashtag de milhares dos posts do Twitter daqueles que escolheram expressar sua raiva em 140 caracteres ou menos”, escreveu Meghan em “My ‘Reprehensible’ Take on Teen Literature” (algo como “Minha repreensível opinião sobre a literatura juvenil” em tradução livre), artigo que escreveu em resposta às críticas ao seu primeiro texto.
Para ela, é verdade que esse tipo de romance pode ajudar crianças em situações sérias e angustiantes, mas a questão maior que se coloca é se livros sobre sequestros, incesto, distúrbios alimentares e automutilação não acabam por tornar normais esse tipo de comportamento para a grande maioria das crianças que estão simplesmente vivendo os rotineiros e já estressantes desafios da adolescência.
Com esse argumento, Meghan também foi acusada de ter falhado no entendimento das brutais realidades enfrentadas pelos adolescentes modernos, ao que ela respondeu dizendo não acreditar que a maioria dos adolescentes americanos viva em algo parecido com o inferno para precisar de livros assim. “A adolescência pode ser um período turbulento, mas não dura para sempre e com frequência – deixando de lado os casos mais tristes, é claro – parece muito mais dramático no momento do que parecerá no futuro”, escreveu.
No Brasil – O gosto literário dos jovens brasileiros parece ser um pouco diferente do dos americanos. Enquanto por lá figuram livros com temáticas mais pesadas e sombrias entre os preferidos, aqui o tema fantástico é o predileto.
O americano Rick Riordan é quem domina os primeiros lugares com os títulos O Herói Perdido, O Ladrão de Raios e O Último Olimpiano – livros que também fazem sucesso nos EUA. Para Pascoal Soto, publisher da editora Leya Brasil, é possível notar uma tendência no mercado editorial infanto-juvenil para livros que abordem temas mais afinados com a realidade dos adolescentes. No entanto, no Brasil eles seguem um caminho um diferente. A série bem-humorada Diário de um Banana, de Jeff Kinney, que fala das dificuldades de um garotinho no ensino fundamental, diz Pascoal Soto, é que temos de mais próximo dos romances-problema americanos.