
Reunida com jornalistas e editores estrangeiros – a maioria alemães interessados em conhecer o país que será o convidado de honra da Feira de Frankfurt em 2013 – na manhã desta quarta-feira, em São Paulo, a presidente da Câmara Brasileira do Livro, Karine Pansa, foi direta ao descrever a Bienal do Livro paulista, evento organizado pela CBL. Questionada sobre as oportunidades de negócios entre profissionais do setor surgidas no Anhembi, ela explicitou o perfil comercial do evento, conhecido como um grande feirão de livros: “Nós temos um centro de negócios para reuniões, mas a Bienal é mais para o comércio.” (“We have a business center for meetings, but Bienal is more for trade.”)
A colocação, se confirma o caráter de feirão da Bienal, diferente daquele da Flip, que há dez anos vem investindo fortemente na literatura e pautando o debate cultural no país, ao mesmo tempo cria um desafio para o evento. Um desafio e tanto. Afinal, como a Bienal, que cobra uma entrada de 12 reais, oferece poucos descontos aos visitantes e este ano ainda tem uma programação de debates notoriamente inferior que a de edições anteriores, pode atrair leitores dispostos a comprar? Leitores que, de acordo com pesquisa apresentada nesta semana durante a Convenção Nacional de Livrarias, estão investindo menos em leitura.
A resposta da Bienal parece ser investir em figuras pop, caso da americana Cecily Von Ziegesar, autora da saga best-seller Gossip Girls, que deu origem à série de TV de mesmo nome. Mas é preciso dizer que boa parte dos convidados é figura repetida. Vêm aí mais uma vez os onipresentes Padre Marcelo Rossi (numa tarde de autógrafos no estande da Globo Livros), a teen Thalita Rebouças e o vamp André Vianco, além de personagens como Seu Barriga, que não sai mais do país — ele até já deu entrevista pedindo emprego a emissoras locais. Esses são o que de mais pop e midiático a Bienal tem este ano, e, coincidência ou não, estarão reunidos quase todos no primeiro sábado do evento, que promete ser o dia de maior movimento no Anhembi (confira abaixo os destaques desta edição).
Há, claro, bons nomes da literatura, caso do catarinense-curitibano Cristóvão Tezza e do carioca Rodrigo Lacerda, mas, comparada com uma Flip a programação da Bienal deixa a desejar, especialmente no aporte de estrangeiros. Neste ponto, além de mais fraca, a programação cultural, concluída em cima da hora, pega carona em outros eventos. O filósofo francês Bruno Latour, por exemplo, foi adicionado à lista de convidados depois de fechar sua participação na série de debates Fronteiras do Pensamento. Fica portanto a sensação de que o evento poderia ter feito mais para trazer nomes de vulto. Principalmente, porque teve dois anos e três curadores — os jornalistas Paulo Markun e Zeca Camargo e o diretor do Museu da Língua Portuguesa, Antonio Carlos Sartini — para isso.
Interessante, mesmo, podem ser os debates sobre tecnologia e cultura digital pautados para esta sexta-feira (vide abaixo). Mas é difícil crer que leitores ainda pouco interessados em comprar livros impressos — os alemães se impressionaram com o volume de cópias vendidas em 2011 no país, quase 500 milhões, admiração que se diluiu com o número de livros consumidos no ano por pessoa, apenas quatro, e a informação de que essa média é em grande parte alimentada pelas compras do governo para as escolas — vão se interessar muito mais por livros digitais.
Sem um investimento real e bem planejado na atração para a leitura, não há como padres, vampiros e teenagers best-sellers fazerem milagres.
Maria Carolina Maia
DESTAQUES DA BIENAL
QUINTA, 09/AGO
17h00 Lei das Biografias – Deputado Alessandro Molon, Dr. Guilherme Carboni, Dr. José Renato Nalini, Deputado Newton Lima e jornalista Paulo César Araújo
Mediador: Dr. Antônio Penteado Mendonça (Espaço Livros & Cia.)SEXTA, 10/AGO
13h30 A Amazon e o Novo Normal: Possibilidades Digitais do Kindle
Com Russ Grandinetti, vice-presidente mundial da Amazon, responsável por gerenciar todo o projeto mundial do Kindle
Mediador: Carlo Carrenho (Espaço Livros & Cia.)16h00 Romantismo moderno – filósofo Bruno Latour (França) (Espaço Salão de Ideias)
18h00 Passagens de Tempo – psiquiatra e filósofo Mauro Maldonato (Itália) (Espaço Salão de Ideias)
18h00 A Revolução Digital e Novos Modelos de Negócio, com Jesse Potash, fundador da Pubslush Press, uma plataforma de publicação social para novos autores baseada em crowdfunding. Mediador: Carlo Carrenho (Espaço Livros & Cia.)
19h30 A Revolução Digital no Brasil: Perspectivas Tropicais, com Eduardo Melo, fundador da Simplissimo, uma das principais empresas de produção de e-books no Brasil (Espaço Livros & Cia.)
SÁBADO, 11/AGO
11h00 Crush: Adolescer! – Cecily Von Ziegezar (EUA), Thalita Rebouças e Paula Pimenta
(Espaço Jovem)14h00 Início da tarde de autógrafos de Agapinho, de Padre Marcelo Rossi, no estande da Globo Livros
16h00 O ator Edgar Vivar, o Seu Barriga, autografa o livro Chaves – A História Oficial Ilustrada, no estande da Universo dos Livros
SEGUNDA, 13/AGO
15h00 Amor que Dá Certo, Amor que Dá Errado – Alejandro Zambra (Chile), João Jardim e Tatiana Salem Levy (Espaço Jovem)
19h00 Literatura, Carreira e Mercado – Claudio Willer, Marcelino Freire e Rodrigo Lacerda
Mediador: Joaquim Maria Botelho (Espaço Livros & Cia.)TERÇA, 14/AGO
11h00 O Mercado Editorial em Quatro Pesquisas – Diego Drumond Lima – Presidente Da Associação Brasileira De Difusão Do Livro (ABDL), Francisco Ednilson Xavier Gomes – Presidente Da Associação Nacional De Livrarias (ANL) e Karine Gonçalves Pansa – Presidente Da Câmara Brasileira Do Livro (CBL) (Espaço Livros & Cia.)
QUARTA, 15/AGO
18h00 Ciência como Espaço para Ficção Científica – Miguel Nicolelis
Mediação: Donizete Galvão (Espaço Salão de Ideias)QUINTA, 16/AGO
17h00 Livros e o Lado Brilhante da Nova Classe Média – com Marcelo Neri
Mediador: André Torreta (Espaço Livros & Cia.)SÁBADO, 18/AGO
14h00 Biografia do Presidente-Escritor – Fernando Henrique Cardoso (Salão de Ideias)
Mediação: Paulo Markun