Um dia histórico para os direitos humanos no Brasil após a ditadura
Estado, através da AGU, firma acordo com família Herzog para cumprir finalmente um pacto humanitário de Verdade, Memória e Justiça

O Brasil viveu nesta quinta, 26, um dia histórico – palavra banalizada nos últimos anos no país – para a Verdade, Memória e Justiça relacionada à violência da ditadura militar. O Estado finalmente anistiou o jornalista Vladimir Herzog.
A Advocacia-Geral da União firmou um acordo com a família de Vlado, assassinado sob tortura em um prédio público durante o regime, depois de uma luta por reparação de cinco décadas de Clarice Herzog, que foi casada com o jornalista.
O documento prevê indenização no valor de R$ 3 milhões de reais à família Herzog e uma indenização para a própria Clarice com pagamento mensal no valor de R$ 34,5 mil.
Diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog se apresentou voluntariamente apenas para “prestar esclarecimentos” ao DOI-CODI do II Exército, principal aparato de violência do regime militar. Ele seria interrogado por sua militância no Partido Comunista Brasileiro, o PCB.
O violento assassinato foi seguido de uma vergonhosa tentativa de forjar um suicídio do jornalista. As imagens mentirosas, contudo, iniciaram um movimento da sociedade contra a ditadura militar. Acabou sendo fundamental para enfraquecer o regime.
“Hoje se cumpriu mais uma etapa nesse processo, nessa longa jornada de busca de justiça e da verdade no caso do assassinato do meu pai. Celebramos o acordo fechado com a União para a anistia política de Vladimir Herzog. Eu acho que também é muito significativo a nova postura da Advocacia-Geral da União que poderia ter arrastado esse processo por meses e até anos, mas ao invés disso preferiu ter uma dignidade humana e correta. E rapidamente propor um acordo com a família do meu pai. Enfim, transformar esses meses em anos, em algumas poucas semanas, até a celebração desse acordo. Isso é muito importante porque isso vai garantir que eu e meu irmão cuidemos da minha mãe, do seu companheiro nos anos que lhes restam, prestando todo o cuidado que eles merecem, com toda a dignidade e carinho”, afirmou Ivo Herzog, filho de Vlado, à coluna.
“O acordo revela uma mudança profunda da maneira como o Estado brasileiro historicamente lidou com esse tema tão sensível. Era algoz, promoveu violência contra cidadãos por anos. Agora, vem aqui, mais uma vez, pedir desculpas por toda a barbaridade que perpetrou, e reconhecer direitos. Esse acordo também expressa a renovação de um compromisso ético-político de todos nós, de manter acesa a luta permanente pela democracia no Brasil”, disse Jorge Messias, ministro da AGU, também à coluna.
Clarice Herzog teve papel fundamental no processo de luta por justiça para o marido e toda sua família, gerando efeito cascata em todos os casos de mortos e desaparecidos políticos brasileiros. É por isso que a luta de Clarice é tão fundamental e simbólica para o país – passa pela luta pela redemocratização de todo um país. De todos aqueles torturados pelo Exército, Marinha e Aeronáutica, que permanecem sem fazer uma revisão histórica sobre os anos 1964-1985.
E um legado que passa por Ivo, seu filho Lucas, presentes no ato, e todos os membros da família Herzog que veriam nesta sexta, 27, o jornalista completar 88 anos. O comunicador brilhante, contudo, permanece presente no Instituto que leva o seu nome por conta da força grandiosa de Clarice, que pode finalmente descansar.