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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Um 7 de Setembro com Paulo Autran

Roteirista Daniel Fraiha relembra papéis do grande ator que servem de lição para o dia da independência

Por Daniel Fraiha
3 set 2021, 08h16

O que esperar do 7 de setembro? É a questão que mais tem fomentando o noticiário dos últimos dias. O bestiário produzido pelo governo, que passeia de moto e vive à base de idiotices, só fala nisso.

Estão tentando sequestrar o dia da independência e maquiar o autoritarismo com a falsa máscara de grito por liberdade. É triste. A brutalidade muitas vezes ganha excesso de atenção, é o tosco e efêmero triunfo dos espalhafatosos. Mas os que veem no fuzil um instrumento de libertação estão condenados a viver eternamente suas próprias prisões. É um retrato gradeado de tanta gente hoje que fica difícil saber onde vai dar essa marcha dos insensatos.

Enquanto não chegamos lá, vale lembrar outro marco do dia 7 de setembro: Paulo Autran. O Senhor dos Palcos, patrono do teatro brasileiro, nasceu no centenário da nossa independência e faria 99 anos na próxima terça-feira.

Algumas de suas atuações marcantes podem servir de inspiração para esses dias confusos.

Uma delas é na peça _Liberdade, Liberdade_, escrita por Millôr Fernandes e Flavio Rangel a partir de dezenas de textos e fatos históricos envolvendo lutas por liberdade e governos autoritários. Foi um marco, lançada em 1965, quando vinha para alertar sobre a perda gradativa de liberdade que acontecia no Brasil ainda na primeira fase da ditadura, nos anos pré-AI-5.

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Uma das primeiras falas de Paulo na peça é uma citação a Aristóteles, que diz muito sobre a escalada de ameaças de golpe do presidente brasileiro: “As tiranias são os mais frágeis governos”.

Hoje, a fraqueza do presidente do Brasil se mede nos decibéis de seus gritos golpistas. O som da fragilidade é ensurdecedor.

Mas a atualidade do texto não para por aí.

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Já no meio da peça, outra fala de Paulo, desta vez em referência aos fascistas de Franco, na Espanha, faz piada com o despreparo dos militares para comandar o país. Também caberia muito bem para o Brasil atual, quando lembramos das trapalhadas de farda em alguns ministérios. Ao encenar o papel de um general espanhol diante de um obstáculo, ele diz: “Este é um problema que qualquer criança de três anos é capaz de resolver”. Em seguida, faz uma pausa e completa: “Eu… humm… tragam-me uma criança de três anos”.

A mistura de sátira e alerta crítico, dramático, também dá o tom de outro personagem vivido por Paulo, o conservador golpista Porfírio Diaz, em _Terra em Transe_, de Glauber Rocha. A sequência final do filme, em que o político é coroado, traz palavras pomposas para uma sentença grotesca que hoje volta a pairar sobre nossos ares: “Aprenderão! Botarei estas histéricas tradições em ordem! Pela força, pelo amor da força, pela harmonia universal dos infernos, chegaremos a uma civilização!”.

Com menos vocabulário e mais grosserias, chega-se perto do que o governo brasileiro tenta pintar. Essa “harmonia universal dos infernos”, que cresce nas mãos da força, jamais levará à civilização. O pouco dela que atingimos, pelo contrário, é ameaçado dia sim, dia também pela barbárie dos vendedores de fuzil.

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Até quando, não sabemos. Mas um terceiro personagem de Paulo serve de alerta aos militares que ainda se empolgam com aventuras retrógradas. Em _O País dos Tenentes_, de João Batista de Andrade, Paulo vive um general que participou de movimentos militares e repassa sua trajetória no fim da vida. Os assombros de suas escolhas se revelam bem na imagem assustadora desenhada na parte final do filme: o general deitado na cama, coberto de insetos, projetando os restos podres que sobram dessa trajetória corrompida.

Fica de alerta para que se lembrem do Brasil de verdade. A vida que tem se pintado, armada e sem feijão no prato, não é a nossa. Nosso país, nossa cultura, nosso verde e amarelo… nosso sete de setembro não é a data das armas. Não é o dia dos tanques fumacentos. Das queimadas, dos gritos covardes. Muito menos do autoritarismo. Jamais a palavra “liberdade” poderá servir a tiranias.

Para quem tem dúvidas, uma das últimas falas de Paulo no final da peça _Liberdade, Liberdade_, uma mistura de citações a Abraham Lincoln e H.G Wells, traz dizeres perfeitos: “Entre os homens livres não pode haver escolha entre o voto e as armas. Os que preferirem as armas acabarão pagando caro. A verdadeira força dos governantes não está em exércitos ou armadas, mas na crença do povo de que eles são claros, francos, verdadeiros e legais. Governo que se afasta desse poder não é governo – mas uma quadrilha no poder”.

* Daniel Fraiha é jornalista e roteirista, Mestre em Criação e Produção de Conteúdos Digitais pela UFRJ e sócio da Projéteis – Criação e Roteiro

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