Suspensão de voos da França agrava relações internacionais do Brasil
Para imprensa francesa, Brasil se tornou usina de novas variantes do coronavírus

A decisão da França de suspender todos os voos com o Brasil é mais um revés nas relações internacionais do país. Na imprensa francesa, o Brasil é considerado uma “usina de variantes” perigosas do coronavírus, causador da Covid-19.
O prestigioso jornal Le Monde publicou hoje que “a situação sanitária não parou de se agravar no Brasil desde fevereiro em razão da emergência de uma variante local do vírus chamada “P1″ e considerada mais contagiosa e mais mortal, mas ainda minoritária na França. Ao mesmo tempo que a vacinação avança lentamente no Brasil, até hoje foram identificadas 92 novas cepas do coronavírus, fazendo do país uma gigantesca ‘usina de variantes’.”
Esta ideia das 92 variantes que já circulava causou fortíssima reação na oposição e o governo francês se viu forçado a reagir. Na sessão de questões na Assembleia Nacional, ao responder a uma pergunta sobre o Brasil, o primeiro-ministro Jean Castex disse que constataram “que a situação se agrava [no Brasil] e nós então decidimos suspender até nova ordem todos os voos entre o Brasil e a França”.
Um analista francês ouvido pela coluna contou que, conversando com especialistas, concluiu que houve exagero, mas o medo, de qualquer forma, tinha base real. Um executivo francês com relações no Brasil classificou a reação em seu país como “uma verdadeira besteira”. O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, disse que as contaminações se devem “80% à variante de origem britânica e, no momento, um pouco menos de 4% às variantes brasileira e sul-africana”, corroborando que houve exagero no noticiário.
Mas o exagero é, em grande medida, causado pela situação real do país, de total descontrole da pandemia, número elevadíssimo de mortes, colapso hospitalar e escassez de insumos médicos absolutamente necessários. A péssima imagem do Brasil, desde a posse de Bolsonaro, agravada pela anulação da diplomacia profissional por dois anos, na gestão delirante de Ernesto Araújo, contribuiu para criar essa ideia de que o país se tornou tóxico para o mundo.
As reações que o isolamento provoca aqui terminam por gerar arestas com os países que adotam medidas restritivas, como a interrupção de voos e o fechamento de fronteiras. O conflito em torno das medidas de contenção da pandemia podem prejudicar ainda mais a busca brasileira por vacinas e insumos fundamentais.