Sebastião Salgado tenta diálogo, mas Funai insiste em devolver fotografias
Troca de emails mostra fotógrafo tentando manter a doação de quadros estimados em R$ 1 milhão; Fundação defende leilão público para ajudar etnias

O instituto que leva o nome do fotógrafo Sebastião Salgado procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai) para retomar o processo de doação de 15 quadros cedidos há dois anos ao órgão, com fotos de indígenas da etnia Korubo do Coari. A Funai, no entanto, insiste na devolução do acervo para que Salgado faça um leilão e doe os recursos para ajudar os indígenas, se assim ele desejar.
Conforme revelado pela coluna em maio, a Funai reagiu a uma campanha internacional promovida pelo fotógrafo, na qual personalidades do mundo artístico pediam ações do governo Jair Bolsonaro e do Congresso em defesa da população indígena diante da pandemia do coronavírus. A campanha de Salgado – que reuniu celebridades do mundo como Brad Pitt, Paul MacCartney e Gisele Bündchen – fazia um “apelo urgente aos dirigentes do Brasil”.
Em resposta à iniciativa, a Funai decidiu devolver os quadros para que fossem vendidos pelo fotógrafo, em um leilão. Os recursos angariados deveriam ser destinados a ajudar etnias, segundo a sugestão enviada pela Funai à equipe do fotógrafo.
Embora já estejam na Funai há dois anos, a doação dos quadros, avaliados em R$ 1 milhão, ainda não havia sido concluída devido a trâmites burocráticos. Nesta semana, a equipe de Sebastião Salgado procurou a Funai para deixar os atritos de lado e concluir o processo, mas o órgão insistiu na devolução. Em uma troca de e-mails obtida pela coluna, uma funcionária do fotógrafo afirma que ele está aguardando os documentos para a assinatura final.
“Vamos retomar nosso assunto? Lembro bem já estavam com o documento da doação [dos quadros] em mãos para ser assinado. Deixando os atritos a respeito dos quadros de lado, vamos retomar, o Sebastião continua aguardando o documento para esta assinatura final”, afirma.
Em resposta, a chefia de gabinete da presidência da Funai ressalta que não há atritos ou antagonismos de ideias e afirma que “esse é o momento adequado para que todos ultrapassem e saiam da fase do mero discurso e implementem medidas concretas e efetivas” em benefício dos indígenas. Além disso, a Funai alega que “não se vislumbra, no atual momento, a possibilidade real de guarda e tratamento adequado a peças de valor tão expressivo”.
“Considerando o notório trabalho já realizado por V.Sa, permita-me sugerir que, após a devolução, as peças sejam levadas a leilão visando arrecadação de recursos que poderão ser revertidos em gêneros alimentícios não perecíveis, itens de higiene pessoal, materiais de limpeza, ferramentas agrícolas e outros itens, e doados à Campanha Empresa Solidária desta Fundação, especialmente no atual momento em que é enfrentada pandemia causada pelo Coronavírus”, respondeu a chefia de gabinete do presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier da Silva. A obra de Sebastião Salgado é valorizada no mundo inteiro e ele é reconhecido como um dos maiores fotógrafos da atualidade.