Quero morar para sempre em três minutos com o Flamengo
A religião e o amor, desculpem os outros, que só podem ser rubro-negros… em uma carta aos meus filhos

Aeroporto da Filadélfia, dia 21 de junho de 2025. O sobrenatural de Almeida, de Nelson Rodrigues, estava presente. Bem presente diante de um mar rubro-negro. De novo.
Cinco flamenguistas conversam sobre a vitória contra o Chelsea e o sentimento de que, se o jogo contra o River Plate em 2019, em Lima, continua inigualável, os três minutos da virada contra o Chelsea foram os mais incríveis desde então.
Novamente em três minutos. Sim, inesperadamente. Um calor quase igual, um sol escaldante muito próximo daquele no Estádio Monumental U.
O jogador Bruno Henrique, agora denunciado pelo Ministério Publico brasileiro, sendo decisivo como há quase seis anos – mas sem seu parceiro de ataque mais famoso – e, agora, com Danilo e o cria Wallace Yan.
A conversa dos cinco flamenguistas era sobre o magnético sentimento de pertencer, o arrepio de ser parte de uma nação que canta, canta a alegria de ser rubro-negra a ponto de, em algum momento, todos serem um. Era sobre a catarse em arrepios sem a qual nenhum de nós consegue viver. Sim, a magnética.
Pra mim começou em 1987, na final contra o Internacional até hoje contestada de forma tão absurda e que não vale entrar no tema. Especialmente por conta daquele grupo corrupto liderado por outros times. Qualquer coisa perguntem ao jornalista PVC que ele conta pra você.
Pra mim, o importante foi ver Zico, Júnior, Renato, Bebeto, Leandro, Andrade, Jorginho, Zinho, o melhor time do Brasil no ano, vencendo e convencendo no antigo Maracanã de arquibancada de cimento nos ombros do meu pai Marcelo Netto, e ao lado do meu irmão Vladimir (aquele momento para sempre. Amo vocês)
Aliás, 2019 também teve cimento. Em 2025, não. Mas foi em cima das cadeiras doLincoln Financial Field que cantamos sem parar, perdendo literalmente litros de água, até que o Flamengo virou contra o clube que gastou um bilhão para formar o time que, naquele jogo, tinha zero alma. Ou alma zero.
A alma estava em nós, sem falta modéstia. Os cinco rubro-negros Diego, Leslie, Patrick, Rodrigo e eu éramos visto de longe por Cassius. Todos lembrando 2019 e o 2025 no dia anterior enquanto torcedores do time inglês passavam ainda incrédulos com o 3 a 1.
Uma cerveja no bar do portão de embarque foi o bastante para a garçonete Kelly perguntar “quem são vocês? Por que não param de cantar?” Expliquei em poucas palavras sobre um time brasileiro que tem 47 milhões de torcedores, arrastando multidão rubra e negra.
Ela sorriu muito! “Soccer?” Sim. O famoso futebol que os Estados Unidos de Obama ou Trump não estão nem aí. Mas e os europeus que viajaram para lá? Estão tomando um sapeca iaiá dos brasileiros, mostrando que a taça Guanabara sempre foi um campeonato importante. Alguns têm falado sobre a magia e perguntado: “que torcida é essa?”.
O que vai acontecer a partir de agora, não sei. Muito orgulho dos que ficaram para o próximo jogo do campeonato. Tento voltar até a semifinal, amigos. Quem sabe as quartas. A vida que vai mandar. Mas cantem por mim, por favor.
Cantem como cantamos em 1987, 1992, 2009, 2019, 2022 (Lembra, Daniel? Lembra, Mari?), 2024 (primeiro campeão do galinheiro – emoji com o mão na boca), muitos outros anos, e agora em 2025.
Outro dia disse aos meus filhos, Mariana e Daniel, que quero ser enterrado com as camisas do Flamengo desses dias, o ingresso e o papel amarelo que voou quando os dois Diegos e o Everton levantaram a taça da Libertadores. Errei. Peço que acrescentem a faixa com os dizeres “onde estiver estarei” que amarrei no pescoço no jogo contra o Chelsea, meninos. O sobrenatural de Almeida entenderá.
PS – Mari e Dan, voltem sempre à torcida do mengão, como levei vocês. Minha maior aliança é com vocês e com o mengão. Aliás não deixem meus netos fora disso também, se os tiver um dia. Amo todos vcs.