Quebra de decoro pode ser o calcanhar de Aquiles de Flávio Bolsonaro
Pente-fino em falas do filho 01 mostrarão se o senador mentiu sobre relação com Queiroz. Randolfe promete ir ao STF contra pasmaceira do Conselho de Ética

Há uma máxima no Senado Federal, especialmente entre os parlamentares mais experientes e que têm atuação, como manda o figurino, discreta na Casa: o maior risco de se perder um mandato é ser pego na mentira ou na omissão, a temida quebra de decoro.
Foi assim, por exemplo, com os ex- senadores Luiz Estevão e José Roberto Arruda. Eles se viram envolvidos em escândalos de corrupção em suas carreiras políticas, mas foram as danadas da mentira e da omissão que tiraram o mandato dos dois.
Nesta quinta-feira, 18, após a prisão do policial aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), governistas e oposicionistas começaram a lembrar dos casos dos parlamentares cassados.
Ao ser finalmente encontrado na casa do advogado da família Bolsonaro e, com a informação repassada pela Polícia Civil de que o ex-assessor estava lá há um ano, iniciou-se a especulação no Senado se Flávio Bolsonaro pode ter escorregado politicamente e aberto a brecha da quebra de decoro nesse período, quando já exercia o mandato de senador.
Em outubro do ano passado, por exemplo, Flávio Bolsonaro afirmou, em uma rede social, que não tinha “mais nenhum tipo de contato com [Queiroz] há quase um ano”. “Nunca mais falei e a última notícia que tive, pela imprensa, foi a de que ele estaria tratando do seu câncer no estado de São Paulo”.
O problema é que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro acabou ressurgindo em um imóvel do advogado Frederick Wassef, esse defensor do presidente e de seu filho mais velho e frequentador assíduo do Palácio do Planalto. Se estava lá há um ano, como informou a Polícia Civil, a versão de que não tinha contato com Queiroz fica frágil, para não dizer fragilíssima.
Flávio Bolsonaro é filho do presidente, o que dificulta ainda mais a abertura de um processo de cassação no Senado, onde prevalece o espírito de corpo e corporativismo em alto grau. Isso somente acontecerá se ficar comprovado a quebra de decoro. O Senado ainda é a Casa Legislativa mais controlada pelo governo Bolsonaro.
Mandado de segurança
Os problemas de Flávio Bolsonaro, contudo, não serão tão fáceis de resolver. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) estuda entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando que a corte determine, ao menos, que o Conselho de Ética analise um pedido – já feito – de abertura de processo contra o filho 01 de Jair Bolsonaro.
Após a prisão de Queiroz, Randolfe Rodrigues enviou novo requerimento ao Conselho de Ética da Casa pedindo a admissibilidade de uma representação antiga contra o colega do partido Republicanos, protocolada em 19 de fevereiro. O caso está parado há exatos quatro meses.
A motivação está ancorada nas novas informações sobre a relação do filho do presidente Bolsonaro com Queiroz, reveladas pela Operação Anjo, da Polícia Civil do Rio.
O novo requerimento de Randolfe pede, entre outras coisas, à Comissão de Ética:
“1) A imediata análise preliminar, por esta Presidência, da admissibilidade da representação contra o Senador Flávio Bolsonaro;
2) o registro e autuação da representação, a notificação do senador para apresentação de defesa prévia e a designação de relator”.
Se o Conselho mantiver a pasmaceira desta vez, o caso deve parar mesmo no STF. Perguntado sobre se uma medida drástica como um mandado de segurança não seria pedir a interferência de um poder no outro, Randolfe afirmou que se há um direito sendo ferido, o de que o procedimento seja ao menos analisado, “é preciso recorrer a alguma instância”.