Por que Maduro colocou Lula em maus lençóis
Presidente brasileiro não poderá mais "relativizar" devaneios do colega venezuelano
O resultado do “plebiscito” venezuelano, que dá suporte a Nicolás Maduro para a criação de um novo estado no território da Guiana, coloca Lula e a América do Sul em maus lençóis.
Não se sabe se o resultado da votação (95,93% a favor) é confiável – já que o regime chavista está longe de ser uma democracia -, mas agora a situação na região se agravou.
O presidente brasileiro já errou no seu terceiro mandato – assim como fez nos dois anteriores – em relação à Venezuela, dizendo que o “conceito de democracia é relativo”.
Como afirmou a coluna na ocasião, em Junho, Lula tratou como relativo o absoluto valor da democracia, que o levou de volta ao poder em 2022.
Mas agora não há espaço para relativizar nada.
Se Nicolás Maduro iniciar um conflito com outro país do continente, mesmo com a discussão de mais de 100 anos sobre a anexação de parte da Guiana pela Venezuela, Lula terá que ser coerente com o que sempre defendeu em sua trajetória política.
Crítico contumaz de guerras – e suas consequências para inocentes ao redor do mundo -, o presidente brasileiro já se mostrou preocupado, mas perdeu a oportunidade de ser mais incisivo.
“O que a América do Sul não está precisando é de confusão. Não se pode ficar pensando em briga. Espero que o bom senso prevaleça, do lado da Venezuela e do lada Guiana”, disse neste domingo, 3.
Depois, completou: “a humanidade deveria ter medo de guerra. Só faz guerra quando falta bom senso. Se tem uma coisa que estamos precisando para crescer e para melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição, e não ficar pensando em briga, não ficar inventando história”.
Fez bem o presidente brasileiro em dizer que Maduro está “inventando história”, mas agora é a hora de mostrar todo o seu afastamento em relação a um ditador que já desnudou sua crueldade inúmeras vezes nos últimos anos.