Lula errou ao se expressar sobre a África. Não há muito o que discutir sobre isso.
O presidente brasileiro deveria pedir desculpas. Não há demérito nisso, mas sim em não reconhecer o erro.
As palavras infâmia ou vergonha deveriam ter sido usadas e não o termo “profunda gratidão” ao continente “por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”.
Mas o erro acaba aí.
A ideia principal do raciocínio de Lula em um encontro rápido com José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, está correta. O Brasil deve muito à África e precisa sim ressarcir o seu povo – nosso povo – por isso.
“A forma de pagamento que um país como o Brasil pode fazer é a possibilidade de formação de gente para que tenha especialização nas várias áreas que o continente africano precisa, para a possibilidade de industrialização e de agricultura”, disse Lula, que também acredita no compartilhamento de conhecimento científico.
Perfeito!
Agora, o presidente brasileiro deveria visitar o Cais do Valongo no Rio de Janeiro, porto que mais recebeu escravizados no mundo (estima-se que quase 1 milhão de africanos do Congo e de Angola tenham aportado no Brasil a partir de 1811), e o cemitério dos pretos novos, onde eram depositados os corpos daqueles que morriam no desembarque ou nos primeiros dias no Brasil.
Nesses lugares se tem um reencontro com a verdade do país. Num dia de forte chuva no Rio, levei meus filhos e a filha da minha namorada para estarem frente a frente com essa verdade.
Lá, tive mais uma vez a certeza: é o que as novas gerações de brasileiros precisam saber e entender.
Lula compreende isso.