Por que a não demissão de Carlos Lupi indica derrocada para Lula
Permanência de ministro evidencia o esvaziamento político do Planalto

Muito se falou sobre a perda da relevância política do Poder Executivo por ocasião da recusa do líder do União Brasil na Câmara, deputado federal Pedro Lucas (MA), em assumir o ministério das Comunicações. Até aí, zero surpresa, pois agora mais valem as emendas ao Orçamento do que a raquítica verba discricionária da pasta. Há, porém, outro episódio ilustrativo da derrocada do prestígio da Esplanada – a permanência de Carlos Lupi no cargo.
O ministério da Previdência Social parece ter tão pouca serventia atualmente, do ponto de vista do cálculo político – a não ser para colaborar com golpes e fraudes –, que não compensa o trabalho de demitir Lupi: além do desgaste com o nanico PDT, ainda há o risco de novo vexame, caso o contemplado com a vaga venha a esnobá-la.
Quando tinham grandes poderes, os ministérios atraíam o que havia de “melhor” (no mau sentido da palavra) entre os políticos mais graúdos. Se apanhados em mal-feitos, tinham de sair, contritos e constrangidos, ainda que hipocritamente. Por muito menos, em 2011, como se sabe, o próprio Lupi foi varrido do ministério do Trabalho, em uma das faxinas de Dilma Rousseff.
Neste terceiro mandato de Lula, entretanto, o governo vai aguentando, não só o encargo da não demissão de Lupi (embora, aparentemente, ninguém pasme com isso), como também as bravatas dele – que parece verdadeiramente indignado pelo flagrante do crime sob suas barbas.
E, assim, entre a omissão e o conformismo, o Executivo assina embaixo da própria irrelevância: já não governa com autoridade, apenas administra os restos de um poder simbólico, acenando com cargos que ninguém quer e tolerando escândalos que outrora provocariam exonerações sumárias.
Ao manter Carlos Lupi onde está, mais do que aceitar a decomposição da própria força, o Planalto a legitima.