Durante todo o seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez menos pelos mais pobres, se comparado com governos anteriores. O Nordeste, região com altos índices de pobreza, foi deixada de lado por diversas vezes na atual gestão. O presidente, inclusive, foi preconceituoso com a população da região em vários momentos.
Como a coluna mostrou em fevereiro, Bolsonaro usou o termo “pau de arara” ao cobrar seus assessores nordestinos durante uma live. Isso depois de ter dado outras demonstrações de seu desrespeito com o Nordeste.
Em 2019, por exemplo, fez outra piada de mau gosto. Bolsonaro afirmou que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”. E essas são só duas das muitas declarações que seguiam o mesmo tom.
Agora, em meio ao vale-tudo pela reeleição, o presidente afirma que terá o dobro de votos no Nordeste do que teve em 2018.
“Eu tenho certeza que, no mínimo, terei o dobro da votação que tive no passado no Nordeste, em alguns lugares, até com chance de ganhar. De onde vem isso? Primeiro, de tratá-los com dignidade, como irmãos de verdade, levar a verdade para eles”, declarou em entrevista ao canal Rede Vida nesta quarta, 21.
A conta é completamente estapafúrdia. Em 2018, Bolsonaro perdeu no segundo turno em todos os estados do Nordeste para Fernando Haddad. O presidente teve cerca de 8,8 milhões de votos contra mais de 20 milhões de Haddad.
De duas, uma. Ou Bolsonaro está perdendo o senso de realidade – o que é improvável, mas não impossível – ou está criando novas versões do ataque à democracia que vem fazendo ao longo dos meses ao questionar os resultados das urnas.
Todas as pesquisas mostram o presidente perdendo as eleições para Lula. No Nordeste, em especial, o petista tem uma vantagem esmagadora. Segundo o levantamento desta semana da Genial/Quaest, por exemplo, Lula tem 60% das intenções de voto no Nordeste contra apenas 21% do atual presidente.
O Nordeste sempre foi um reduto eleitoral do PT. Após os governos de Lula e Dilma, com diversos projetos sociais voltados para a população mais pobre, a força do partido aumentou na região.
Bolsonaro tem um histórico longo de declarações sem sentido. E nem é preciso ir muito longe para encontrá-las. Nesta semana, em Londres, o presidente já havia dito que se não ganhar no primeiro turno algo “anormal” terá acontecido no TSE.
Mais uma vez, o presidente deixa no ar a ameaça de que não aceitará o resultado das urnas que pelo menos agora, ao que tudo indica, vai ser desfavorável a ele.