A desigualdade de gênero ainda é um dos maiores desafios no mercado de trabalho para as mulheres, e a questão não se restringe somente às empresas privadas. Servidoras públicas brasileiras também sofrem com essa disparidade.
É o que revela um levantamento feito pela República.org com dados de 2020 (base mais recente), apresentando a distribuição de vínculos de homens e mulheres nas 27 unidades da federação na administração pública.
A pesquisa mostra que mulheres são a maioria dos vínculos em quase todas as faixas salariais, exceto na faixa acima de cinco salários mínimos. Esse padrão se repete para quase todos os estados, exceto para Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará e Roraima.
“Esses resultados apontam para as barreiras existentes na ascensão profissional de mulheres e como as desigualdades podem se manifestar em níveis diferentes”, afirma Vanessa Campagnac, gerente de Dados e Comunicação da República.org – instituto criado para melhorar a gestão de pessoas na administração pública brasileira.
O levantamento revela ainda os abismos que existem entre os estados brasileiros e os diferentes níveis de governo (municipal, estadual e federal).
No nível municipal, por exemplo, as mulheres negras são maioria no serviço público (34,7% dos vínculos), seguidas por mulheres brancas (29,5%) e homens negros (21,4%). No entanto, ao considerar os cargos de direção e gerência no nível municipal, apenas 22,9% são gestoras negras.
Mulheres também são maioria no serviço público estadual e apenas no nível federal homens brancos são maioria, com presença de 32,6%. No nível federal, a proporção de mulheres se encurta ainda mais em cargos de liderança, com apenas 11,8% de gestoras negras.
Para Vanessa Campagna, que é doutora em Ciência Política, faltam subsídios e incentivos para que mais mulheres cheguem a altos cargos na administração pública. Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) de 2018, apenas 2,7% dos 5.568 municípios brasileiros contavam com política de priorização de cargos de chefia e assessoramento para mulheres. Quando os estados foram consultados no mesmo ano, nenhum respondeu que investia nesse tipo de política.
“Essas iniciativas, acompanhadas de outras políticas e frentes que atraiam mulheres para postos diversos e cargos de liderança, podem mitigar essas disparidades de gênero”, afirma a mestre em Ciência Política e analista de dados da República.org Paula Frias.