A coluna avisou nesta terça-feira, 3, que era preciso apertar os cintos porque uma nova turbulência institucional se aproximava do céu azul de anil.
Pois bem.
Nem bem chegou a quarta-feira, 4, e a turbulência está instalada. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, afirmou que não é hora de mexer na estrutura da corte porque a instituição “serviu ao Brasil na preservação da democracia”.
Nas entrelinhas, Barroso falava do bolsonarismo e aproveitava para seguir o voto do decano da corte, Gilmar Mendes, sobre a ofensiva de Rodrigo Pacheco em relação a mandatos para ministros do STF (e agora limitar decisões individuais do colegiado).
Ocorre que – no Congresso, em especial no Senado – a visão é a que não adianta reclamar do timing da proposta porque quem começou a errar nisso foi o próprio Supremo.
Segundo interlocutores de Pacheco, faltou “sensibilidade política” à ex-ministra Rosa Weber, que não entendeu o momento do Congresso, hoje pautado fortemente pelo conservadorismo.
A avaliação é a de que, percebendo o fim do tempo na presidência do STF, ela começou a pautar temas como discriminalização do porte de drogas, aborto, marco temporal, deixando o clima nebuloso entre os poderes.
“Jogaram gasolina na fogueira. Se o Supremo não quer que entremos na seara deles, o Congresso também não vê razão para que a corte ‘legisle’”, disse um desses mais próximos interlocutores de Pacheco, lembrando a pesquisa Datafolha.
Segundo o instituto, 72% dos brasileiros são contra o uso recreativo da maconha. Em relação ao aborto, que teve o julgamento interrompido, a resistência é ainda maior.
A nova crise institucional entre poderes no Brasil ainda vai sacudir bastante os mais de 200 milhões de passageiros.