O que se sabe sobre o sumiço do indigenista e do jornalista na Amazônia
A coluna faz um apelo para que as forças de segurança não meçam esforços para encontrá-los
O Brasil é o país com o maior número de indígenas isolados do mundo. A região do Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, é o local onde estão 25% desses povos que não têm contato com os outros 200 milhões de brasileiros.
Foi nessa região que o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), desapareceu acompanhado do jornalista inglês Dom Phillips, competente colaborador do jornal The Guardian.
O servidor público da Funai é hoje o maior conhecedor desses grupos de indígenas isolados. Bruno Araújo Pereira foi coordenador-geral de índios isolados e recém-contatados dentro do órgão público.
Acabou sendo responsável pela maior expedição dos últimos 20 anos – seja em mobilização de pessoal, seja de orçamento – para fazer contato com um grupo de índios isolados, ação revelada pela coluna em 2019.
Bruno Araújo Pereira acabou também sendo muito perseguido pelo seu trabalho, seja fisicamente – por bandidos armados como caçadores e garimpeiros ilegais –, seja psicologicamente – por integrantes do governo Jair Bolsonaro. A gestão colocou a Funai no colo de uma parte da ala ideológica da extrema direita bolsonarista.
Foram os evangélicos, após a posse de Jair Bolsonaro, que ficaram com a função de cuidar de um dos segredos mais importantes do Estado brasileiro: a localização desses povos originários. Internamente na Funai, um grupo pequeno de servidores tem o “mapa dos indígenas isolados” no Brasil.
Interações com povos indígenas no passado levaram a tragédias, com a morte de até 70% da população de índios por doenças como gripe ou sarampo, porque as tribos não têm imunidade. Daí um dos motivos da manutenção dessas informações sob sigilo. Existem outros.
Segundo informado à coluna, o jornalista Dom Phillips teria registrado, recentemente, ameaças contra Bruno Araújo Pereira, que já deu entrevista para a coluna em algumas ocasiões em que se iniciaram conflitos, especialmente na região do Vale do Javari, onde os dois desapareceram.
Apesar de terem aumentado consideravelmente as invasões na área por garimpeiros e caçadores, como relatado pela coluna em 2019, ainda não se pode fazer hipóteses firmes sobre o que houve para o desaparecimento dos dois.
Polícia Federal, Marinha e Força Nacional estão fazendo varreduras no trecho entre a comunidade São Rafael e o município de Atalaia do Norte (AM), onde teria ocorrido o desaparecimento, mas falta, por exemplo, um helicóptero que poderia acelerar as buscas.
A coluna entrou em contato com pessoas próximas de Bruno Araújo Pereira. O barco usado por eles – Bruno e Dom Phillips – era novo e o servidor da Funai tem vasta experiência na condução dessas embarcações.
A melhor das hipóteses é que eles tenham saído do leito principal do rio e estejam presos em canais menores, após as cheias. A pior seria o encontro com caçadores e desmatadores, que ameaçavam Bruno constantemente.
A coluna faz um apelo para que as forças de segurança não meçam esforços para encontrá-los.