Completando 80 anos neste domingo, 26, Gilberto Gil fez um desenho importante e qualificado – como tudo o que fez em sua vida – do quadro político mundial e nacional.
O cantor e compositor deu entrevista à Folha, na qual trata de sua riquíssima trajetória profissional, pessoal e espiritual, misturando-as com a avaliação desse momento polarizado no planeta.
Em relação ao Brasil – foco da coluna (apesar de incentivar que todos leiam a entrevista completa) – Gil não deixou de provocar Lula e elogiar Ciro Gomes.
O curioso é que o cantor e compositor já declarou o seu apoio ao petista em 2022, mas isso não fez com que o músico – pelo menos nessa entrevista – o veja de forma messiânica.
Perguntado como foi a conversa recente com Lula após renovar seu apoio ao petista, Gil devolveu o questionamento ao entrevistador:
“Você reconheceu mudanças no olhar dele sobre o país? Eu não sei se poderia arriscar dizer que percebi mudanças”, afirmou.
Depois, continuou: “Sem dúvida, ele se manifesta, hoje, politicamente mais aberto. […] Não sei em que medida ele teria condições de se ‘transformar’, para usar entre aspas essa palavra, em um agente mais contemporâneo”.
Como já explicado pela coluna, Gil concordou, contudo, que o ex-presidente poderá, ao menos, pacificar o país diante do avanço da extrema-direita brasileira bolsonarista.
Depois, elogiou FHC, quando perguntado sobre ele, e aproveitou para, espontaneamente, dizer o seguinte sobre Ciro Gomes:
“Tenho muita admiração por Ciro também, pela capacidade da reteorização das questões da sociedade mundial e do Brasil. A releitura que ele faz das mazelas brasileiras, das omissões das elites, dos déficits na questão da abolição, da distribuição da riqueza talvez seja, do ponto de vista de uma nova visão teórica, a manifestação mais expressiva que a gente tem hoje no Brasil. Sinto muita pena que essa nova visão teórica do Ciro não esteja a serviço de toda a esquerda, toda a centro-esquerda brasileira”.
A declaração pode ser entendida como uma sinalização de que Ciro seria uma melhor opção “contemporânea” para o Brasil nesta eleição.
Quem é próximo de Gil, contudo, garante: trata-se apenas de uma visão de que Lula e Ciro deveriam voltar a andar juntos, como no passado, especialmente diante do horror de Jair Bolsonaro.