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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

O motim, o tarifaço e a direita que não quer se distinguir da extrema

Não foi uma obstrução. Foi um motim. E como tal, deveria ser tratado com o rigor que a democracia exige

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 ago 2025, 17h58 - Publicado em 7 ago 2025, 17h37

 

Durante 36 horas, deputados e senadores bolsonaristas ocuparam fisicamente as mesas diretoras da Câmara e do Senado, impedindo o funcionamento do Congresso e exigindo, à força, a apreciação de três pautas: o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, a anistia ampla aos golpistas do 8 de janeiro e o fim do foro privilegiado.

Chama a atenção que essa ocupação tenha contado não apenas com figuras conhecidas da extrema direita, mas também com nomes de partidos como o Novo. O deputado Marcel Van Hattem, por exemplo, se destacou entre os manifestantes, mostrando que a fronteira entre direita e extrema direita está cada vez mais borrada. Como já dissemos aqui na coluna, parte expressiva da direita institucional ainda não foi capaz de se diferenciar, de maneira clara e pública, da direita golpista.

Foi necessário que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira voltasse ao tabuleiro para negociar o recuo dos amotinados. O atual presidente, Hugo Motta, só conseguiu sentar na cadeira presidencial com a intermediação de seu antecessor — o que expôs uma fragilidade preocupante da nova Mesa Diretora. Motta disse que até “ultrapassar o limite tem limite”. Mas o estrago político já estava consumado.

Como mostrou Robson Bonin, na coluna Radar, houve promessa de que medidas disciplinares seriam tomadas. Mas até o momento, nenhum dos parlamentares envolvidos no motim sofreu consequência real. A oposição, por sua vez, sustenta que houve acordo para que suas pautas sejam discutidas. Motta nega qualquer permuta: “A presidência da Câmara é inegociável”, afirmou.

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No Senado, a história se repetiu com nuances próprias. O senador Magno Malta chegou a se acorrentar à mesa. O presidente Davi Alcolumbre, com mais firmeza, deu um ultimato: “Acaba hoje”. E acabou. Sem acordo, sem chantagem.

Mas a crise não se restringe às paredes do Congresso. A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro — motivada pelo descumprimento de medidas cautelares — foi usada pela extrema direita como gatilho para uma nova narrativa de vitimização. Não por acaso, coincidiu com a entrada em vigor do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, impulsionado por aliados de Eduardo Bolsonaro junto à equipe de Donald Trump.

Como dissemos no programa Ponto de Vista, de VEJA, essa medida afeta duramente setores específicos da economia brasileira — do mel do Piauí aos calçados do Rio Grande do Sul —, sem causar recessão, mas gerando impacto severo no micro, no emprego e na popularidade do governo Lula.

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A lógica bolsonarista, neste momento, é clara: quanto pior, melhor. Eles apostam na instabilidade econômica como combustível emocional para retomar espaço político. A prisão de Bolsonaro é usada como instrumento narrativo para produzir comoção e deslocar o foco das provas incontestáveis sobre sua participação na tentativa de golpe.

O objetivo final não é jurídico, é simbólico. Assim como, na Guerra do Peloponeso, Alcibíades traiu Atenas com o pretexto de protegê-la de si mesma, a extrema direita brasileira disfarça sua sabotagem institucional com uma suposta cruzada moral. O que vimos nesta semana foi uma encenação — mas com efeitos reais sobre a democracia e a economia.

Se há uma lição a tirar, é que não se deve negociar com quem aposta na desordem como método. Como já dissemos aqui: ceder à chantagem é brincar com fogo. O Parlamento precisa decidir se quer ser lembrado como o lugar onde se dobraram instituições — ou onde se manteve de pé a democracia.

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