O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, está jogando a sua partida mais arriscada. Pode não parecer, já que a atuação do magistrado foi fundamental no momento mais tenso de nossa democracia desde a redemocratização, mas o bilionário Elon Musk pode feri-lo como nenhum outro ator da direita brasileira.
Esse é o fato.
Não é segredo — já escrevi várias vezes na coluna — que enxergo a atuação de Moraes nos anos Bolsonaro, especialmente em 2022, como fundamental para a manutenção do Estado democrático de Direito no Brasil.
O enfrentamento — por exemplo — da narrativa mentirosa de Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas, na dobradinha com o colega de toga Edson Fachin, lembrava Bebeto e Romário contra a intransponível defesa sueca, em 1994.
Mas esse tempo passou. O bolsonarismo perdeu força com o andamento das investigações sobre a tentativa de golpe, milícias digitais, fraude no cartão de vacina e outras apurações comandadas inclusive pelo próprio Moraes.
Pois bem.
Enquanto a ferida extrema direita brasileira lutava para manter a narrativa dos excessos do “xerife do Supremo”… Ficava evidente que essas críticas quase não furavam a bolha bolsonarista nos últimos anos. Agora é diferente.
Elon Musk joga um jogo mundial que tem a ver com cifras no montante de bilhões de dólares. Não defende a liberdade de expressão na China, onde o ex-Twitter é proibido. Lá, ele está ganhando muito dinheiro com a venda de carros.
Todo esse confronto no Brasil, justamente contra Alexandre Moraes, já está sendo usado pelo bolsonarismo para se reagrupar. Como não há regulação das redes sociais no Brasil — o que esse espaço tem defendido com unhas e dentes —, o ministro tem que ocupar o espaço vazio deixado pelo Congresso.
Criticá-lo fica mais fácil, bem mais fácil — já que o Parlamento, com sua maioria conservadora, conseguiu postergar ad aeternum a discussão.
É certo que Alexandre de Moraes precisava reagir ao descumprimento de ordem judicial, às provocações e às ofensas do bilionário. Mas agora a bola está no pé de Musk, que tentará atingi-lo perigosamente fora da bolha da extrema direita.
Me cobrem se eu estiver errado.