O presidente Jair Bolsonaro finalmente fez seu primeiro pronunciamento depois de ser derrotado nas eleições do último domingo, 30. Como já era esperado, ele não parabenizou Lula pela vitória e não reconheceu o resultado do pleito, numa postura rancorosa e antidemocrática típica do atual presidente.
Além disso, fez um discurso rápido, não deu espaço para perguntas de jornalistas e ainda manteve as dúvidas que sempre levantou sobre a transparência do processo eleitoral.
Falando principalmente aos seus eleitores em vez de falar para o Brasil como um todo, exatamente como Lula fez em seu discurso após a vitória, Bolsonaro disse que os movimentos que estão acontecendo no país “são fruto de indignação e sentimento de injustiça sobre como se deu o processo eleitoral”.
Mais uma vez, o presidente coloca em xeque o processo eleitoral, mantém a corda esticada, a polarização odienta acesa e inicia, na opinião desta coluna, um “terceiro turno” da disputa entre seus seguidores mais radicais.
Em contrapartida, Bolsonaro tentou desestimular os abusos nos protestos.
“As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, afirmou.
Ao reforçar o direito de ir e vir, estaria falando diretamente com os manifestantes que bloqueiam rodovias e prejudicam a vida de milhões de brasileiros. No entanto, o ideal é que Bolsonaro falasse claramente para liberarem as estradas. A fala clara não aconteceu.
Mesmo num discurso rápido, o presidente também não perdeu a chance de alfinetar seus adversários.
“Sempre fui rotulado como antidemocrático, e ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo os mandamentos da Constituição”, declarou, esquecendo as barbaridades cometidas contra a democracia.
Bolsonaro fez um jogo duplo em seu breve discurso. Pediu manifestações pacíficas, mas mantém as hipóteses de injustiça no processo eleitoral. Reclama de ser chamado de antidemocrático, mas desafia as tradições democráticas ao não reconhecer e parabenizar seu adversário pela vitória na disputa.
A derrota não mudou Bolsonaro. Até 31 de dezembro, o Brasil ainda viverá sob o comando de um homem que, durante quatro anos, não conseguiu se posicionar à altura do cargo que ocupa.