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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

O enterro do PSDB, que um dia foi grande, sem velório nem lágrimas

A lenta agonia de um partido que perdeu primeiro sua própria identidade

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 Maio 2025, 16h44

Por mais que a imagem seja forte, ninguém acendeu vela. O PSDB morreu, e quase ninguém apareceu para o enterro. A saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é só o último espasmo de uma agonia pública, lenta e documentada. Nem mesmo os algozes querem levar a culpa. É um fim sem mártires, sem aplausos e sem herdeiros claros.

O partido que nasceu social-democrata e que elegeu Fernando Henrique Cardoso presidente duas vezes virou, com o tempo, uma sigla errante. Na virada do século, tentou ser o fiador do “realismo neoliberal responsável”. Depois, em meio ao avanço da direita radical, optou por imitar o que dizia combater — com menos carisma e mais ressentimento. Quando percebeu, já não era mais reconhecível nem pela própria militância.

Eduardo Leite, tratado como promessa e último respiro de racionalidade tucana, preferiu pular fora. Saiu antes de ser confundido com o mobiliário. A fusão com o Podemos parece uma tentativa burocrática de manter algum fundo partidário ativo e espaço de TV em ano eleitoral. Mas do ponto de vista simbólico, é como pendurar o terno no armário e apagar a luz: fim da linha.

As imagens do PSDB enfrentando o PT, marcando posição no debate público, liderando governos e sendo referência de “moderação” hoje soam tão distantes quanto os tempos em que a política ainda cabia na tela da TV. O partido, que um dia foi identificado com a modernidade, acabou superado até mesmo pelo modem — não como metáfora de conexão, mas como símbolo do atraso. A digitalização da política atropelou os que ainda discavam.

Mas é bom lembrar que o PSDB nasceu de uma costela do PMDB para ser uma sigla modernizante, oposta ao fisiologismo, e de forte capacidade de formulação de políticas públicas. Conseguiu ser por muito tempo. Fez em Campinas a primeira experiência do Bolsa Escola. Seus economistas formularam e implementaram o Plano Real. Foi o PSDB de Paulo Renato que criou novidades como o Fundef (hoje Fundeb), ou a política de avaliação da educação, além de ter feito a universalização do fundamental. A Lei de Responsabilidade Fiscal também nasceu dos seus esforços.

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José Serra fez uma gestão inovadora na Saúde onde elaborou a política de atendimento de portadores de HIV, e além de ter criado os remédios genéricos. Criou as agências reguladoras, com o propósito, hoje revogado, de serem instâncias técnicas não ocupadas por nomeações políticas. Quebrou o monopólio da Petrobras, Eletrobras, privatizou a telefonia. Principalmente era um partido programático, que tinha ideias social democratas, ainda que fosse sempre acusado de ser de direita pelo PT. O que acabou sendo quando começou a perder substância.

No fim, o PSDB morreu como viveu nos últimos anos: sem saber se era direita, centro ou apenas contra o outro. Soube ser governo por um tempo, não soube ser oposição. Sumiu antes de sair de cena. E quando a luz se apagou, ninguém chorou.

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