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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

O Brasil na geopolítica da fome

O ensaísta Davi Lago lembra que bolsões de miséria no Nordeste precisam de maior atenção não apenas do poder público, mas de toda sociedade brasileira

Por Davi Lago
Atualizado em 4 jun 2024, 14h58 - Publicado em 11 out 2020, 14h40

O Programa Mundial de Alimentos da ONU venceu o Prêmio Nobel da Paz 2020. Trata-se da maior agência humanitária no combate à fome: apenas no ano passado, forneceu alimentos para cerca de 100 milhões de pessoas em 88 países. O Brasil tem uma participação importante nesta trajetória. Desde sua fundação em 1961, o programa teve treze diretores – de apenas oito nacionalidades diferentes. Um deles foi o diplomata brasileiro Bernardo de Azevedo Brito, diretor entre 1981-1982. Situação análoga ocorre na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO): entre os dez diretores da instituição desde sua fundação em 1945, está o agrônomo brasileiro José Graziano da Silva, diretor entre 2012-2019.

Além da forte presença diplomática e executiva, o Brasil ocupa papel pioneiro na reflexão acadêmica sobre a luta contra a fome através das pesquisas do pernambucano Josué de Castro. Desde sua tese de livre-docência pela Faculdade de Medicina de Recife, O problema fisiológico da alimentação no Brasil (1932), Castro produziu extensa obra sobre o tema, que inclui textos como Alimentação e raça (1936), A alimentação brasileira à luz da geografia humana (1937) e sua obra-magna Geografia da Fome (1946). As pesquisas inovadoras de Josué de Castro o conduziram à mesa diretora da Conferência da FAO em 1948, e demonstraram a necessidade de esclarecer os fatores geopolíticos da fome. Conforme Castro afirmou: “denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens”.

De fato, a fome de multidões de seres humanos não é um fenômeno inevitável como no passado. Hoje, existem recursos físicos e conhecimentos tecnológicos para alimentar a atual população global, e até mesmo um número maior. Os avanços científicos contemporâneos possibilitaram ações inimagináveis no passado. O governo norueguês, por exemplo, construiu em 2008 o Silo Global de Sementes de Svalbard que armazena sementes e material genético (germoplasma) de todo o mundo. O número de amostras se aproxima de 1 milhão, representando mais de 13.000 anos de história agrícola. O grande desafio hoje é a capacidade de acesso aos alimentos por parte dos povos em todo o planeta. Por isso, Susan George afirma na obra O mercado da fome que “a fome não é um flagelo e sim um escândalo”.

Sobretudo no Brasil, a fome permanece um escândalo. O país ocupa um lugar contraditório na geopolítica da fome. Por um lado, a nação brasileira é campeã mundial na produção de alimentos. O estudo publicado pela FGV Alimentando o mundo: o surgimento da moderna economia agrícola no Brasil, de Herbert Klein e Francisco Vidal Luna, comprova a grande habilidade da agricultura brasileira. Mas por outro lado, cerca de 10,3 milhões de brasileiros enfrentam insegurança alimentar grave de acordo com dados divulgados mês passado pelo IBGE. Bolsões de miséria na região Nordeste precisam de maior atenção não apenas do poder público, mas de toda sociedade brasileira – dos 3,1 milhões de domicílios mais vulneráveis à fome, 1,3 milhão estão no Nordeste. Assim, a pergunta de Josué de Castro na introdução de sua obra-prima permanece atual: “Quais são os fatores ocultos desta verdadeira conspiração de silêncio em torno da fome?”.

* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

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