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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O “apagão sexual” da geração Z. Entenda 

Teólogo Rodolfo Capler analisa a mudança de comportamento dos jovens que estão fazendo menos sexo e experimentando outras modalidades de prazer erótico

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 13 jul 2022, 12h38 - Publicado em 3 jul 2022, 08h49

Nunca vivemos um tempo tão permissivo em relação ao sexo. Aplicativos como Tinder ou Badoo, possibilitam experiências sexuais em apenas um clique. O sexting juvenil se tornou um modelo cultural e o poliamor é uma nova modalidade erótica, celebrada entre a nova geração. Temas que antes eram vistos como tabu, como o sexo anal, se tornou assunto vastamente discutido por todos – o site da Teen Vogue até publicou um guia ensinando como praticá-lo. Apesar disso tudo, os jovens da geração Z (nascidos a partir de 1995), estão fazendo menos sexo que as gerações anteriores. 

Em “IGen” – extensa pesquisa com a nova geração  a psicóloga Jean W. Twenge escreveu: “A verdade, porém, é que os centennials são menos propensos a fazer sexo na adolescência e na vida adulta”. Refletindo os resultados de sua ampla pesquisa, Twenge afirma que os adolescentes hoje, durante o ensino médio, mantém menos interação sexual que os millennials e que seus próprios avós, quando tinham a mesma idade. Segundo o levantamento da psicóloga, os membros da geração X, nascidos nos 70, (pais da maioria dos centennials), relataram uma média de 10,05 parceiros sexuais ao longo da vida, ao passo que os membros da geração Z afirmaram ter feito sexo com 5,29 parceiros. Revelando as mesmas mudanças, um estudo realizado em 2020 com 9.500 pessoas, pelo Instituto Karolinska na Suécia em parceria com a Universidade de Indiana, concluiu que 30,9 % dos rapazes entre 18 a 24 anos não fizeram sexo nos últimos doze meses, antes da entrevista. Isso significa que um em cada 3 não praticaram sexo em um período de um ano. Em 2002, num estudo conduzido pelo mesmo instituto de pesquisa, a abstinência sexual entre os rapazes era de 18,9%. Entre as meninas, a abstinência saltou de 15,1% em 2002 para 19,15% em 2018. 

Em minha pesquisa de campo, realizada entre os anos de 2018 a 2020, com trezentos alunos de ensino médio da Rede Pública de Educação no interior de São Paulo, 67% (n=112) dos rapazes entrevistados disseram não ter se relacionado sexualmente nos últimos doze meses e 73% (n=94) das meninas também afirmaram o mesmo. O que me chamou a atenção nos depoimentos dos estudantes foi a substituição que muitos fizeram do sexo pela prática do sexting. Quando perguntei a Douglas, 17, a razão dele não ter feito sexo nos últimos doze meses, ele me respondeu: “Quando bate àquela vontade transar, eu já chamo alguma novinha no contatinho e daí a vontade passa”. Deyse, 15, me respondeu que não fazia sexo, “por uma questão de segurança”. Segundo a jovem, “por que me expor fazendo sexo, quando posso me divertir virtualmente?”.

A diminuição do sexo entre os membros da geração Z – ou o “apagão sexual” como dizem alguns psicólogos – é bem ilustrada na queda da gravidez na adolescência no Brasil. Segundo levantamento publicado em 2017, realizado pelo Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (Sinasc), de 2004 a 2015 houve uma queda de 17% na taxa de natalidade de mães entre 10 e 19 anos. Como consequência da redução da atividade sexual, algumas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) também estão diminuindo entre a nova geração..

Os apontamentos das pesquisas citadas até aqui, costumam surpreender a todos, inclusive os próprios centennials, que por desfrutarem grande liberdade erótica com os aplicativos de relacionamentos e serem mais permissivos em relação a comportamentos sexuais, custam a acreditar que são menos ativos sexualmente que seus pais e avós. 

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Quais são as razões da diminuição da atividade sexual entre os jovens?

Psicólogos, sexólogos, sociólogos e educadores estão tentando entender as razões da inatividade sexual dos mais jovens. Algumas explicações já foram fornecidas por diversos estudos, como o aumento do consumo de pornografia on-line (cyberpornô), o tempo dispendido em games e a maior interatividade com as redes sociais. Porém, há pelo menos duas outras especulações sobre o declínio da atividade sexual da geração Z, que são muito importantes para a nossa reflexão.

Uma das possíveis causas é o retardamento psicoemocional que os adolescentes de hoje estão experimentando. A geração Z está se desenvolvendo mais lentamente – física e emocionalmente – que as gerações passadas. Os centennials são caracterizados, entre outras coisas, por crescimento vagaroso, ou seja, de modo ímpar, eles estão assumindo menos responsabilidades na vida, o que os afeta de muitas maneiras; do desempenho escolar aos relacionamentos afetivos. Conforme observou o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu ensaio “Podres de Mimados” (texto que trata de forma ácida, os efeitos colaterais do romantismo no comportamento contemporâneo no Reino Unido), a atual geração de jovens é a mais infantilizada de todos os tempos. É comum, por exemplo, encontrarmos meninos e meninas de 15 anos que manifestam o desejo de mudar o mundo em suas redes sociais, porém não sabem organizar a própria agenda ou manter o mínimo de disciplina nos estudos. Esse fenômeno de retardamento social dos centennials é chamado de overparinting (excesso de cuidado e intervencionismo dos pais na vida dos filhos). Segundo os estudos de Julie Lythcott-Haims, ex-reitora da Universidade de Stanford, a atitude superprotetora dos pais em relação aos filhos está gerando adolescentes imaturos e medrosos. 

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Dessa forma, à medida que a geração Z continua atrasando marcos importantes da vida adulta, como emancipação financeira, morar sozinho, casamento e parto, ela também demonstra menos pressa em fazer sexo. A pesquisa do Instituto Karolinska (mencionada acima) endossa essa teoria ao revelar que rapazes solteiros, de baixa renda, desempregados ou empregados em meio período, tinham maior probabilidade de não ter feito sexo no último ano do que aqueles que eram casados, tinham renda mais alta ou tinham empregos.

Outra tentativa de explicar a diminuição do sexo entre os centennials é associá-la ao aumento do sexo oral e da masturbação. Em seu livro “Garotas e Sexo”, Peggy Orenstein constatou um aumento da prática de sexo oral por parte das meninas entrevistadas para seu livro e também observou que a maioria delas descreviam a oralidade sexual como uma prática banal. Orenstein coletou muitos depoimentos de meninas que afirmavam praticar o sexo oral como uma alternativa segura para o ato sexual. Rachel, uma das meninas entrevistas por Orentein, comentando sobre o porquê de fazer sexo oral nos meninos, disse: “Você não perde a virgindade, não pode engravidar nem pegar uma DST. Então é mais seguro”.

Pela ótica de Nikita D. Coulombe e Philip Zimbardo (professor emérito da Universidade de Stanford), o consumo da pornografia e a prática excessiva da masturbação são as causas da diminuição do sexo entre os adolescentes. No livro “Man, Interrupted” [Homem, interrompido], Zimbardo descreve o fenômeno da “procrasturbação” – quando os rapazes procrastinam as responsabilidades da vida, sublimando-as por meio da masturbação – como uma das principais causas da diminuição do sexo entre eles. Para Zimbardo os rapazes estão cada vez mais com medo de interações reais com as garotas, o que os leva à masturbação e à experimentação dos fracassos, acadêmico e social.

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 Seguindo as tendências de menos sexo dos centennials, podemos prospectar alguns cenários possíveis a afetarem o tecido social.  Por exemplo, o conceito de família tradicional se desintegrará pouco a pouco (o que já tem acontecido), dando lugar para novas modalidades de arranjos familiares. Haverá também um processo de diminuição da população ativa no Brasil, o que comprometerá a previdência social, com menos gente trabalhando para sustentar os idosos aposentados. Em última instância, como fruto desta mudança comportamental dos adolescentes, o processo de analfabetismo emocional, que já experimentam, se adensará, produzindo aquilo que Zygmunt Bauman vaticinara há décadas atrás: uma grande liquidez geracional.  

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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