Nome de Lula para Minas, Pacheco foi monitorado por coronel ligado a Zema
Ou… um detalhe inédito da operação da PF que desarticulou organização com intenção de espionar, perseguir e até assassinar autoridades

No dia 20 de abril de 2023, o então presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) participava do Lide Brazil Conference, em Londres. Naquele dia, com o então presidente do Banco Central Roberto Campos Neto na plateia, o senador mineiro defendia a redução da taxa básica de juros, em consonância com o governo federal. Longe dali, em sua casa, em Belo Horizonte, o coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas fazia anotações na sua agenda. Era um rascunho do que poderia vir a ser um plano para assassinar Pacheco.
Na agenda de Caçadini, apreendida na operação da Polícia Federal, que desarticulou uma organização criminosa com intenção de espionar, perseguir e até assassinar autoridades, na página do mesmo dia 20 de abril de 2023, foram encontradas anotações com o nome do senador Rodrigo Pacheco. Os escritos de Caçadini, além do nome do senador, traziam uma tabela com valores de “30, 40 e 50 mil reais”, supostamente cobrados pelos serviços de espionagem, o modelo do automóvel usado pelo senador, um 4 por 4, e uma referência de distância em quilômetros. Segundo a Polícia Federal, a organização mantinha uma tabela com gradação de valores dos assassinos: pessoas comuns, 50 mil; senadores, 100 mil e ministros do Supremo, 250 mil.
A polícia também apreendeu um arsenal que incluía cinco fuzis com silenciador, 15 pistolas com silenciador, lança-rojão de ombro, minas magnéticas, explosivos com detonação remota, placas frias e até veículos para fuga. Parte dessas armas foi apreendida em Minas Gerais. Conforme os investigadores, o grupo se autodenominava “Comando C4”, referência a Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos. O grupo era formado por militares (da ativa e reserva) e civis.
Pacheco é o principal nome defendido pelo presidente Lula para a disputa ao governo de Minas em 2026. Ex-subsecretário de Segurança do governo Romeu Zema (Novo) em 2019, o coronel Caçadini é conhecido em Minas pelo seu jeito violento, radical e por defender o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Antes de entrar na mira das autoridades, o coronel mantinha um canal no Youtube chamado de “Frente Ampla Patriótica”, no qual defendia o ex-presidente e criticava as instituições, como o Judiciário e o Congresso. Caçadini se formou na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), em 1977, na turma de Bolsonaro.
O coronel está entre os signatários de uma manifestação política coletiva de oficiais da reserva, publicada em 26 de maio de 2020. Pelos seus posicionamentos, em 2022, recebeu de vereadores bolsonaristas o Título de Cidadania Honorária pela Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Na época em que ocupava o cargo de subsecretário de Segurança do governo Zema, o coronel chegou a sugerir a criação de um grupo de extermínio para assassinar supostos criminosos, num trabalho marginal ao das forças de segurança. O próprio Caçadini é apontado como integrante de um grupo voltado à execução e teria intermediado, conforme investigações da Polícia Federal, o homicídio do advogado Roberto Zampieri, ainda em 2023, em Cuiabá.
Nos telefones apreendidos dos membros da organização criminosa, a Polícia Federal encontrou várias fotos de cadáveres supostamente de vítimas do grupo de extermínio. Ao lado das fotos, havia vários comentários dos integrantes da organização numa espécie de “comemoração pelos serviços executados”. O coronel também é apontado como integrante da chamada “ABIN paralela”, um sistema próprio de comunicação que municiava o chamado “gabinete do ódio”, usado durante o governo Bolsonaro.
Com base na perícia feita no celular de Zampieri, assassinado em Cuiabá, a Polícia Federal encontrou indícios e iniciou uma investigação sobre suposto esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e, na sequência, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin determinou, no dia 26 deste mês, a prorrogação por mais 60 dias das investigações sobre o caso da suposta venda de sentenças no Judiciário.
Procurado pela coluna, o governo Zema ainda não respondeu questionamentos enviados por e-mail.