Nobel para jornalistas embaraça direita e esquerda no Brasil
Líderes brasileiros têm péssimo hábito de tentar colocar na imprensa a culpa pelos próprios erros

O prêmio Nobel da Paz concedido a dois jornalistas independentes e críticos de regimes autoritários acrescenta mais uma variável ao já complexo cenário político brasileiro.
Receberam a distinção, por sua atuação em defesa da liberdade de expressão, a filipina Maria Ressa e o russo Dmitri A. Muratov.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro fez ataques diretos à imprensa profissional em, praticamente, todos os dias de seu mandato.
Ele chegou a ameaçar dar um soco em um repórter, incitou sua claque a agredir os jornalistas incumbidos de cobrir sua agenda e até já usou o cargo para, segundo ele mesmo, afastar empresas que publicam seus balanços na mídia impressa.
Antes de Bolsonaro, ataques à imprensa também aconteciam. Mas nada comparado com o que o presidente Jair Bolsonaro faz.
Lula e Dilma Rousseff, por exemplo, tentaram manter na agenda de suas gestões o projeto de regulação da mídia (hoje, o ex-presidente deu uma boa resposta sobre o tema).
Dilma chegou, em alguns momentos, a hostilizar jornalistas dos grandes meios de comunicação por meio de blogueiros ligados ao governo.
Também chegou a ter conversas somente com esses apoiadores, enquanto os jornalistas profissionais eram mantidos em um cercadinho.
Não podiam fazer pergunta, só podiam acompanhar os questionamentos que mais pareciam elogios em forma de perguntas.
O Nobel para jornalistas críticos dos desmandos e desvios cometidos por poderosos é um tapa na cara da direita e da esquerda brasileira.
Os dois lados precisam evoluir se quiserem conduzir o Brasil para fora da crise de desenvolvimento e civilidade que o país atravessa.