No jogo de Hamilton Mourão, mais um gol contra
Ou... A nova afronta do vice-presidente ao Supremo e à democracia

Hamilton Mourão deu uma entrevista bem bolsonarista ao jornal O Globo nesta quarta-feira, 2. Aliás, em certos aspectos, parecida com o tardio, dúbio e até beligerante pronunciamento de Jair Bolsonaro.
O alvo dos dois, como de costume, foi outro poder da República, a Justiça.
O presidente manteve as dúvidas que sempre levantou sobre o processo eleitoral, já o vice-presidente fez insinuações de que o “jogo” foi perdido lá atrás, mas não por ação do Tribunal Superior Eleitoral, e sim do Supremo.
Vejam o que pensa o senador eleito pelo estado do Rio Grande do Sul sobre a vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro:
“Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador [Lula] não deveria estar jogando. Mas, se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”.
Oi? Para Mourão, Lula não poderia ser candidato à presidência?
Ou seja, é a velha mentira contada pelo bolsonarismo “over and over and over again”.
Na avaliação do vice-presidente, o STF agiu politicamente para anular as condenações do petista.
Os processos contra o ex-presidente é que tinham graves problemas por conta da atuação política de Sérgio Moro e do Ministério Público do Paraná. Preciso lembrar quem foi eleito senador também, além do nome de outro recém eleito deputado?
Mourão, que recentemente defendeu a ampliação de cadeiras no STF e ficou conhecido no governo Dilma Rousseff por suas falas golpistas, está jogando para a plateia. Vejam como ele continua seu raciocínio sobre os protestos golpistas nas estradas após a derrota de Bolsonaro:
“[Eles] Deveriam ter sido realizados quando o jogador que não deveria jogar foi [autorizado a jogar]. Ali deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola”.
É engraçado como a extrema-direita brasileira – a mesma que defende o horror da ditadura e da tortura – está sempre minando a democracia, mesmo quando estão mais “moderados”.
Vi com muita preocupação a reação da opinião pública em relação ao “discurso de derrota” de Bolsonaro.
É errado um presidente não parabenizar o adversário, é errado um presidente, mesmo com um tom mais abaixo do que fez em inúmeros momentos do mandato, duvidar da lisura do Tribunal Superior Eleitoral.
Vejo agora também com muita preocupação a declaração de Mourão de que houve problema no “jogo” eleitoral.
O país, agora que o bolsonarismo perdeu, precisa fazer uma escolha: vamos normalizar – de novo – esses pequenos absurdos diários ou não? Posso dizer que foi assim que tudo começou…