
A ministra Maria Elizabeth Rocha, presidente do Superior Tribunal Militar, tem uma história única e que não será repetida na Justiça Militar nos próximos 217 anos, tempo de existência do STM.
Primeira mulher a dirigir a corte, ela se define como feminista e é casada com o general Romeu Costa Ribeiro Bastos que viu sua família ser dilacerada pelos horrores da ditadura.
O irmão do militar de alta patente, Paulo Costa Ribeiro Bastos, é um dos quase nove mil desaparecidos políticos (número que contempla os indígenas assassinados pelo regime) brasileiros.
Nesta sexta, 11, publico entrevista com a magistrada nas Páginas Amarelas, de VEJA, na qual Maria Elizabeth Rocha afirma que Jair Bolsonaro pode perder a patente e o salário de capitão do Exército por conta da trama golpista. Ela também diz que está preparada para enfrentar pressões na hora de julgar militares, e não só o ex-presidente, mas os generais envolvidos na tentativa de acabar com o estado democrático de direito.
Maria Elizabeth Rocha tratou também da morte do irmão do seu marido ao receber a coluna. Leia abaixo o desabafo da ministra sobre como a ditadura militar afetou sua família.
Seu marido, general, tem um irmão desaparecido político, história que tem toques de ineditismo nas Forças Armadas. A senhora poderia falar sobre o assunto?
Dentro da minha própria casa, a despeito de ser casada com um militar que chegou ao posto de general e também de ser nora de um general que eu não cheguei a conhecer, vi as mazelas que uma ditadura pode causar. E digo que uma ditadura não escolhe suas vítimas. É o jornalista, o filho do general, o próprio militar. Se nós pensarmos bem, muitos militares foram perseguidos. O comunismo nasceu com [Luiz Carlos] Prestes, dentro das forças armadas. Meu marido é um homem que sofre com as dores do desaparecimento do irmão, minha cunhada também. O meu sogro morreu quando realmente se deu conta de que o Paulo [Costa Ribeiro Bastos] havia sido assassinado. Teve um AVC, ficou na cama e não se levantou. Esses millennials não têm a noção do que é um regime ditatorial, do que é ser perseguido pelo Estado, do que é ter sua casa invadida por policiais, do que é ter parentes sequestrados, desaparecidos, do que é ter medo de dizer aquilo que você pensa porque você pode ser castigado. É assustador.