Lula vive seu melhor momento, mas há uma ameaça no horizonte
O governo reabre um caminho de recuperação, mas a disputa entre aliados pode transformá-lo num atalho para o desgaste

A nova rodada da Genial/Quaest mostra que Lula conseguiu se recuperar do tombo de popularidade sofrido no primeiro semestre e atingiu o melhor patamar de aprovação do ano — 48%, contra 49% de desaprovação, uma diferença estatisticamente empatada dentro da margem de erro. A virada, no entanto, vem acompanhada de um alerta: o maior risco ao governo agora não está na oposição, mas dentro da própria base política.
De acordo com a pesquisa, o presidente reconquistou parte dos eleitores que não se identificam nem com a direita nem com a esquerda — justamente o grupo que havia se afastado após a alta dos alimentos e o ruído em torno da suposta taxação do Pix, boato que desgastou o governo no início do ano. Depois de meses em que a popularidade derreteu com o aumento do custo de vida e a desinformação sobre o Pix, o governo parece ter recuperado parte do tempo perdido.
Em maio, 61% dos “não posicionados” desaprovavam o governo e apenas 33% aprovavam. Agora, a distância entre os dois caiu para dois pontos percentuais (48% a 46%), indicando um retorno significativo de parte do eleitorado moderado.
Essa recuperação está associada a três fatores principais: a primeira é a agenda econômica redistributiva, sobretudo a reforma do Imposto de Renda, que prevê isenção para quem ganha até R$ 5 mil — proposta que tem 79% de apoio da população e é vista como um acerto por ampla maioria dos entrevistados.
Depois vem o discurso de justiça tributária e soberania nacional, reforçado por gestos simbólicos como o elogio público de Donald Trump e o discurso de Lula na ONU, avaliado como bom por 52% dos que o acompanharam.
Por fim, a percepção de melhora do ambiente político e econômico, com 43% dos entrevistados acreditando que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, o melhor resultado desde 2023, impulsionado também pela trégua na alta dos alimentos, que aliviou o custo de vida e reforçou a percepção de melhora.
Mas o cenário positivo foi rapidamente contaminado por uma disputa interna. Arthur Lira e Renan Calheiros, velhos rivais em Alagoas, transformaram o projeto de isenção do IR — a principal bandeira de Lula para a reeleição — em campo de batalha.
De um lado, Lira, relator da proposta na Câmara, exige que o Senado mantenha o texto “como foi construído com muito trabalho e diálogo com o governo”. Do outro, Renan, relator na Casa Alta, afirmou que o texto “foi deturpado” e que “mudanças serão feitas”.
A troca de farpas é mais do que um atrito local: ela ameaça justamente o projeto que simboliza a virada de popularidade de Lula — e que o próprio presidente pretende apresentar como vitrine eleitoral em 2026.
Integrantes do governo admitem que, se a briga continuar, a “maior vitória de Lula neste mandato pode azedar”. Isso porque o sucesso da proposta depende tanto da tramitação coordenada entre as Casas quanto da narrativa pública de que o Planalto é capaz de entregar uma promessa central de campanha: aliviar o bolso da classe média sem romper o equilíbrio fiscal.
Os números reforçam a importância simbólica da reforma. Para 64% dos brasileiros concordam com o aumento de imposto sobre os mais ricos para bancar a isenção dos que ganham até R$ 5 mil. Já 41% acreditam que a mudança trará uma melhora importante nas finanças pessoais — contra 49% que esperam uma melhora pequena. E, entre os beneficiários do Bolsa Família, 67% aprovam o governo Lula, o maior índice entre todos os grupos pesquisados.
Esses indicadores mostram que a pauta tributária reconectou o presidente ao eleitor médio, ao mesmo tempo em que consolidou apoio nas bases mais populares.
O governo chega, portanto, ao melhor momento desde o início do mandato, mas cercado de riscos políticos autoimpostos. Se o Planalto conseguir conter a disputa entre aliados e aprovar a reforma sem ruído, Lula consolidará a imagem de estabilidade e eficiência — uma combinação rara em meio à fragmentação do Congresso.
Se, porém, a disputa entre Lira e Renan se intensificar, a vitória pode se converter em desgaste, minando o principal trunfo eleitoral do governo: a reconciliação com o centro político e a classe média. O governo reabre um caminho de recuperação, mas a disputa entre aliados pode transformá-lo num atalho para o desgaste.