Lula fere mais um grupo que o ajudou a bater Bolsonaro
Agora, os familiares de perseguidos da ditadura militar...
A presidente da Comissão de Anistia, respeitada professora Eneá de Stutz e Almeida da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), acredita que “a perspectiva do presidente Lula [sobre a ditadura militar] está um pouco equivocada”.
A declaração foi dada com exclusividade à coluna após o mandatário afirmar, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, que está mais preocupado com o 8 de janeiro de 2023 do que com 1964, referindo-se ao golpe militar.
“Isso já faz parte da história, já causou o sofrimento que causou, o povo conquistou o direito de democratizar este país, os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Eu, sinceramente, não vou ficar me remoendo e vou tentar tocar esse país pra frente”, afirmou Lula nesta terça, 27.
Pois bem. Para a professora Eneá de Stutz e Almeida, a declaração de Lula é exatamente o contrário. “Em síntese: falar sobre as violências cometidas contra a sociedade brasileira após o golpe de 64 não é remoer o passado; é evitar mais violência, é evitar que haja outro golpe de Estado, é evitar o recalque e assim, evitando o esquecimento e valorizando a memória, defender a democracia brasileira”, disse à coluna, claramente ofendida com o raciocínio do petista.
Como se sabe, o presidente já havia ferido uma parte da frente ampla que o elegeu ao comparar os crimes de guerra cometidas por Israel em Gaza com o Holocausto.
Agora, erra no tom em mais um assunto sensível a uma camada importante da sociedade brasileira que o apoiou na acirrada disputa que derrotou Jair Bolsonaro, tão desrespeitoso à Comissão de Anistia, e a extrema-direita nostálgica com a ditadura.
Leia a seguir a reação da professora Eneá de Stutz e Almeida, hoje presidente do colegiado, à fala de Lula: “Bom, me parece que a perspectiva do Lula está um pouco equivocada, porque ele fala em não remoer o passado. Acontece que trabalhar essas questões, esse legado autoritário e esse passado de violência, de violação de direitos humanos, não é remoer o passado. É exatamente o contrário. É uma atitude terapêutica para toda a população brasileira, para toda a sociedade brasileira, no sentido de que o Estado reconheça o seu erro. Qual foi o erro? O erro foi perseguir os seus cidadãos. Em síntese, falar sobre as violências cometidas contra a sociedade brasileira após o golpe de 64 não é remoer o passado; é evitar mais violência, é evitar que haja outro golpe de Estado, é evitar o recalque e assim, evitando o esquecimento e valorizando a memória, defender a democracia brasileira”.