Impasse entre investidor e religiosos tira selo global de escola católica
Reconhecido pelo Vaticano, Regnum Christi encerra vínculo com o Colégio Everest de Brasília. Identidade e projeto pedagógico terão de ser reformulados

Uma das instituições de ensino católico mais conhecidas do país, o Colégio Everest de Brasília deixará a rede global de educação denominada Semper Altius, presente em 19 países. O motivo é uma disputa entre os empresários investidores e os religiosos, donos da marca e do modelo pedagógico. Após mais de uma década de parceria, o movimento religioso Regnum Christi – grupo reconhecido pelo Vaticano e ao qual a marca Everest pertence –, anunciou oficialmente seu desligamento da escola.
A escola foi fundada na capital, em 2012, com base em um modelo de gestão compartilhada entre o movimento católico e os investidores. No entanto, documentos obtidos pela coluna, com pais da escola, revelam a insatisfação dos religiosos que, mesmo sócios, foram afastados das posições de decisão do Everest. Nos últimos meses, os integrantes do Regnum Christi foram surpreendidos com o lançamento de novos projetos, com expansões do colégio, sem consulta prévia, e por mudanças no estatuto que deixaram todo o controle administrativo nas mãos dos empresários.
A congregação religiosa, tenta, desde meados de 2024, restabelecer o modelo original de governança, por meio do diálogo em diversas ocasiões, porém sem sucesso. Os atuais gestores da escola anunciaram que manterão suas operações sob nova marca e identidade institucional.
Comunicado enviado pela escola no dia 1º de maio reafirmou que, apesar das mudanças recentes, não haveria alterações no projeto acadêmico do colégio. Contudo, familiares demonstraram insatisfação pela falta de transparência dos atuais gestores, já que aconteceram mudanças no uniforme, no material escolar e, consequentemente, no projeto educacional, no decorrer do ano letivo, com os alunos já matriculados e sem envolver os responsáveis.
Pais e responsáveis ouvidos pela coluna relataram também preocupação com a condução pedagógica, os padrões de ensino e a formação espiritual que contava com a atuação dos religiosos do Regnum Christi, o que muitos viam como o diferencial da escola e a razão por terem escolhido o Everest como opção para seus filhos.
MUDANÇAS
Segundo os documentos consultados pela reportagem, a saída dos religiosos implica não apenas mudanças administrativas, mas descaracteriza a proposta formativa que atraiu boa parte das famílias. Sem o Regnum Christi enquanto associada, a escola perde a certificação internacional e o vínculo direto com modelo pedagógico da Rede Semper Altius, que administra escolas no Rio de Janeiro e em Curitiba.
Entre pais da escola, circulou uma notificação extrajudicial enviada pelo Regnum Christi aos empresários em março deste ano. O documento demonstra que, mesmo enquanto aconteciam as conversas para a retomada da parceria, em paralelo, os empresários solicitaram registros de novas marcas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com nomes e identidades visuais similares à marca original. A primeira destas marcas, a Everex, teve pedido de registro feito ainda em 2024.
Comunicados enviados pelos dois lados, anunciando a ruptura às famílias, informam que todos os serviços pastorais e apoio dado pelos religiosos do Regnum Christi serão retirados das três unidades do colégio, entre 30 de maio e 5 de julho deste ano, de forma gradativa.
Em nota publicada no site oficial, o Regnum Christi afirmou que manterá sua presença em Brasília por meio de atividades pastorais, nas paróquias e com novos projetos educacionais em análise. Já os atuais gestores divulgaram a intenção de seguir com cadastro em outras redes internacionais de ensino.
O QUE DIZ O COLÉGIO
A respeito da transição institucional do Colégio Everest Brasília, a direção da escola esclarece que os trâmites legais relacionados à antiga parceria com o Regnum Christi estão atualmente em andamento na Justiça, e que eventuais divergências serão resolvidas exclusivamente no âmbito judicial, com o devido respeito às partes envolvidas e às instâncias competentes. Ressaltamos que o comunicado divulgado pelo RC contém incoerências e informações que não refletem com exatidão os fatos ocorridos, fatos esses amplamente conhecidos inclusive por diversos membros do próprio movimento RC. No entanto, por respeito à comunidade escolar e orientação da Igreja, que acompanha de perto todo o processo, optamos por não alimentar disputas públicas nem entrar em uma guerra de narrativas. Eventuais divergências estão sendo tratadas no foro adequado e, com serenidade, serão esclarecidas no tempo e espaço devidos. Reiteramos que não se trata de uma ruptura de princípios, mas de um novo momento institucional, fruto do amadurecimento de um projeto educacional sólido, construído com autonomia pedagógica, fidelidade à missão católica e compromisso com a formação integral dos alunos. A escola segue sob a mesma direção que liderou sua consolidação em Brasília, e dá início agora a uma nova fase: mais ampla, e ainda mais fiel à sua essência. Com isso, passa a adotar oficialmente o nome Heavenly International School (H|S), mantendo seus pilares (fé viva, excelência acadêmica, formação bilíngue e visão internacional), e fortalecendo sua rede de parcerias com instituições educacionais de prestígio global.