Empresa acusada de corrupção no exterior tenta contrato no governo
Após procurar o ministério da Saúde e a Receita, grupo Dentsu buscou contatos com o ministério do Planejamento
Depois de tentar aproximação com o Ministério da Saúde e a Receita Federal, representantes da Dentsu Tracking, braço do grupo Dentsu – acusado de crimes no exterior – buscaram contato com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, para pleitear contratos com o governo federal.
Na Saúde, tentaram por meio dos medicamentos um contrato com a gestão petista. Na Receita Federal, a reunião sem registros oficiais tratou sobre rastreabilidade de bebidas. No Planejamento, tratou-se de uma “visita institucional para apresentar projetos de investimentos no Brasil” (saiba mais abaixo).
A multinacional, que busca implementar seus negócios de rastreabilidade no Brasil, enfrenta suspeitas no Parlamento Europeu devido à falta de transparência em seu contrato com a União Europeia e sua estreita relação com a indústria do tabaco, que pleiteia a desregulamentação do setor.
Em países da África e da Ásia, a empresa foi excluída de licitações por sua proximidade com a mesma indústria do tabaco. No Japão, o grupo foi alvo de acusações de fraude em licitação e suborno durante a preparação para as Olimpíadas de Tóquio.
No Brasil, an Isobar, outra empresa do conglomerado, encerrou abruptamente suas atividades em Brasília em 2020, depois de ser alvo de polêmicas no governo Temer.
Entre os participantes da reunião no Planejamento estavam o empresário Paulo Zottolo, o CEO da empresa Philippe Castella e Valdir Simão, ex-ministro no governo Dilma que atua para um escritório de advocacia.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO
“Tratou-se de uma visita institucional, solicitada pelos participantes externos, para apresentar projetos de investimentos no Brasil. A referida audiência não foi exclusiva com o CEO da Dentsu Tracking, Philippe Castella. Contou também com o CEO da ZM International, Paulo Zottolo, e com o sócio da Warde Advogados e ex-ministro da CGU e do Planejamento, Valdir Simão”.
O QUE DIZ VALDIR SIMÃO
“O Warde Advogados, escritório ao qual pertenço, presta serviços jurídicos em matéria tributária para a empresa. Não sou porta voz da empresa. Paulo Zotollo, que você deve conhecer, talvez possa esclarecer seus questionamentos”.
Questionado se o encontro tratou de matérias tributárias, Simão afirmou que “essas agendas não foram [dele], mas do Paulo. Eu somente o acompanhei”.
O QUE DIZEM PAULO ZUTTOLO
Paulo Zottolo não respondeu os questionamentos enviados pela coluna.
O QUE DIZ DENTSU
A Dentsu Tracking esclarece que não é alvo de investigação, processos ou acusação formal de corrupção ou qualquer ato ilegal. As alegações de suposta falta de transparência no contrato com a União Europeia são infundadas e já foram rebatidas pela Comissão Europeia, o órgão executivo da UE (ver link). Esclarece ainda que a investigação existente no Japão não diz respeito a ela, mas a outra empresa do grupo do qual faz parte a Dentsu Teacking, mas com a qual não possui nenhuma relação operacional. Afirma ainda que é falso que tenha sido excluída de licitações na África e na Ásia. A Dentsu Tracking retirou-se de uma concorrência na Costa do Marfim porque as condições oferecidas não garantiam competição igualitária e justa. Por fim, ressalta ainda que não tem ou teve qualquer relação comercial ou operacional com a Isobar.
A Dentsu é empresa idônea e detentora de tecnologia de ponta capaz de auxiliar o Brasil na rastreabilidade, para fins de tributação, de tabaco e de bebidas. A solução atual contratada pela administração pública ostenta falhas e é muito mais custosa, além de ser provida por empresa sob graves constatações de irregularidade, processos administrativos e judiciais por corrupção no Brasil e no mundo. A Dentsu Tracking defende a contratação de serviços de rastreabilidade através de licitações abertas e transparentes e continuará a apresentar a autoridades nacionais suas soluções porque esse é um interesse empresarial legítimo, em linha com os melhores interesses do país.