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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Da Revolução Francesa à derrocada de Donald Trump

Presidente americano quebrou regras que sustentam democracias construídas ao longo da História

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 nov 2020, 10h31 - Publicado em 4 nov 2020, 20h46

O mundo ainda aguarda o resultado final das eleições nos Estados Unidos, mas uma vitória do democrata Joe Biden virou o cenário mais provável conforme foram avançando as apurações em estados-chave no país.

A iminente derrota de Donald Trump vai encerrar um ciclo de polêmicas e um tempo de desrespeito às democracias conquistadas lá atrás, na Revolução Francesa. O atual presidente dos Estados Unidos coleciona episódios em que interpretou a frase “do povo, pelo povo e para o povo” da forma que achou mais conveniente.

Direitos e garantias fundamentais conquistados com luta pela Revolução Francesa foram deixados de lado por um republicano que não teve postura condizente com os princípios de seu partido em diversos momentos.

Enquanto o país sofre com a pandemia do coronavírus, Trump insiste em minimizar a doença. Os Estados Unidos estão longe de serem a nação mais populosa do mundo, mas tem o maior número de mortos pela Covid-19. Mesmo depois de ter contraído o vírus e de ter ficado internado em um hospital para tratamento, Donald Trump continua resistindo ao uso da máscara num claro desrespeito às orientações dos órgãos de saúde.

Além disso, antes mesmo de as eleições começarem, Trump já falava em fraude e declarou que não aceitaria o resultado da disputa. Na madrugada desta quarta-feira, 4, o presidente norte-americano começou a contar vitória mesmo sem a apuração completa dos votos e afirmou que iria à Suprema Corte.

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Embora essas sejam apenas algumas das várias atitudes de um presidente que há quatro anos coleciona momentos polêmicos, a dúvida que Trump coloca sobre o sistema de votos adotado pelos Estados Unidos deve ser discutida.

A maior economia do mundo ainda possui um sistema de representação duvidoso onde nem sempre o candidato mais votado pelo povo é o que, de fato, assume a presidência do país. Criado na época da promulgação da Constituição dos EUA, em 1789, o sistema de votos por representação foi pensado para facilitar a contagem em um tempo sem possibilidades de locomoção, quando o transporte era precário e não havia ligação entre grande parte dos estados.

Naquele tempo, parecia conveniente eleger delegados dentro dos estados para que cada um contabilizasse os votos e enviasse para uma apuração única. Hoje, o mundo mudou, as fronteiras diminuíram e parece estar na hora de rever como os norte-americanos escolhem seu representante. Até mesmo a distribuição do número de delegados em cada estado parece perder o sentido, pois não há um motivo claro para a Pensilvânia ter 20 delegados e a Flórida ter 29, por exemplo.

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Dois episódios nos últimos 20 anos mostram que o sistema é falho: em 2000, o democrata Al Gore teve 51 milhões de votos, mas perdeu a disputa para George W. Bush, que teve 50,4 milhões de votos, mas ganhou no número de delegados no colégio eleitoral. Naquela época, a vitória foi apertada: Bush teve 271 votos eleitorais contra 266 de Al Gore.

Em 2016, um novo cenário improvável: a democrata Hillary Clinton teve 65,8 milhões de votos, mas perdeu a disputa para Donald Trump, que conseguiu 62,9 milhões de votos. A vitória foi decretada pelo número de delegados: Trump teve 304 contra 227 de Hillary.

A derrota de Trump e a esperança da volta do respeito à democracia podem ser o cenário ideal para que uma discussão sobre o sistema de votação dos Estados Unidos seja, finalmente, iniciada.

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