
Ao pedir cinco dias para que o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas esclareça a homenagem feita pelo Estado a um violento coronel da ditadura, a ministra Cármen Lúcia sinaliza que poderá dar um basta nesses lamentáveis atos de reverências brasileiros.
Seria bom para o país. Até para não passar vergonha perante outras nações.
Isso não acontece em nenhum dos nossos vizinhos sul-americanos, como Chile e Argentina. Também não acontece na África do Sul.
Os três países passaram pela chamada Justiça de Transição após o fim de regimes de exceção semelhantes ao brasileiro, punindo aqueles que atuaram em discordância com a Declaração Universal de Direitos Humanos.
Em solo estrangeiro não se fazem honrarias a quem torturou – se investiga, se julga e se pune.
Ao escolher o caminho oposto – o da impunidade -, o Brasil vive um fenômeno único no qual se normalizam homenagens àqueles que, como servidores públicos das Forças Armadas, violaram os direitos fundamentais de brasileiros civis.
No caso em questão, o coronel ganhou o nome em um entroncamento entre duas rodovias no Estado.
Não só o governador de São Paulo participou, mas o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), André do Prado (PL), fez questão de explicitar o motivo da honraria.
Para o deputado do partido de Bolsonaro, o coronel merece destaque por sua “notória participação” no golpe de 1964, classificado por ele de “movimento que pôs fim à anarquia comunista”.
Em 2023, 38 anos após o fim da ditadura, é preciso mesmo dizer mais alguma coisa? Não vou nem contar na coluna o que o coronel fez em uma universidade, em plena luz do dia, durante o regime fardado.
É que, politicamente, há uma nova questão. A resposta de Tarcísio de Freitas para Cármen Lúcia será uma sinalização importante do governador de São Paulo. Tarcísio quer representar uma direita democrática ou uma extrema direita, como faz seu padrinho político?
Os sinais até hoje têm sido dúbios.