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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Bolsonaro evoca cena histórica exatamente como Hugo Chávez 

Presidente, para estimular a ideia de um levante em 7 de setembro, tenta imitar quadro de D. Pedro I no grito do Ipiranga, ao desfilar a cavalo com bandeira

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 set 2021, 07h52 - Publicado em 2 set 2021, 07h50

O único atributo que Jair Bolsonaro ainda precisa conquistar para se equiparar a Hugo Chávez é a concentração de poderes que o venezuelano conseguiu usurpar para si. O presidente brasileiro gostaria muito de ter tudo o que Chávez conseguiu. Mas tem dificuldades porque enfrenta a reação de parcela expressiva da população, e rejeição das frequentes tentativas de interferência e intimidação contra o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público, a imprensa e, mais recentemente, o sistema bancário.

A nova “hugo-chavuscada” de Bolsonaro foi aparecer montado a cavalo, em Uberlândia, empunhando uma bandeira do Brasil, numa cena parecida com a do famoso quadro “Independência ou Morte”. Nele, o pintor brasileiro Pedro Américo retratou o momento em que Dom Pedro I, de cima de seu cavalo e empunhando uma espada, teria altivamente gritado “independência ou morte”, selando a separação entre Brasil e Portugal em 7 de Setembro de 1822 –mesmo dia em que, em 2021, Bolsonaro sugere que tentará um levante armado.

Freud explica o bem-estar que Jair Bolsonaro exibe ao protagonizar tal encenação. Até porque qualquer criança paulistana que visita o Museu Paulista (também conhecido como “Museu do Ipiranga” que tem sido recuperado para o bicentenário graças ao governo paulista) aprende que o quadro é apenas uma representação e não uma imagem fiel do que ocorreu, o que não diminui a importância histórica e artística da obra.

Sem recorrer à psicanálise, no entanto, nota-se a forte semelhança entre o prazer que Bolsonaro sente ao tentar evocar Dom Pedro com a mesma obsessão de Chávez que fingia reencarnar Simón Bolívar, um aristocrata militar que participou de guerras contra a Espanha na luta pela independência. A narrativa chavista era que agora seria uma segunda libertação. O bolivarianismo chavista, como o bolsonarismo, levou apenas à demolição das instituições democráticas. Esse é o sonho bolsonarista.

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O mesmo sentimento encontra eco em populistas mais moderados do que Bolsonaro e Hugo Chávez. Alguns setores do lulismo, que tem em Lula sua principal expressão, exaltam a figura de Getúlio Vargas. No peronismo, representado por Néstor e Cristina Kirchner, é enaltecida a figura de Juan Domingo Perón.

As semelhanças entre Bolsonaro e o finado ditador venezuelano não se resumem ao apreço pelo autoritarismo, pelo populismo e pelas autocomparações com figuras grandiosas. Ambos tiveram carreira militar antes de entrar para a política – Chávez, inclusive, adotou o uniforme militar como roupa oficial durante seu longo governo. O venezuelano tentou em golpe, antes de entrar na política. Bolsonaro é admirador dos golpes militares e sonha com um deles para chamar de seu.

O presidente brasileiro nunca tem coragem de dizer abertamente, mas o que ele sugere que vai tentar neste 7 de Setembro, é algo com o qual sempre sonhou, antes de ser ironicamente, eleito pela via democrática. Mais uma assombrosa coincidência com outras infelizes ascensões ocorridas no século 20. Autocratas eleitos pelo voto e que conspiram contra a democracia. Jair Bolsonaro nutre fantasias golpistas. Nelas, um grande mal, não importa qual, abate o país e ele surge como o salvador da pátria – ou “líder supremo”, como ele se autoproclama.

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Ainda na década de 1980, graças a reportagens publicadas por VEJA, Bolsonaro foi convidado a se retirar do Exército por organizar um motim contra seus superiores e também atentados a bomba contra quartéis para pressionar por aumento salarial.

Nos últimos anos, ele tem sucessivamente escolhido uma série de arqui-inimigos para combater, mas sempre abandonando o enfrentamento por incapacidade de ganhá-lo. Foi assim com a população LGBTQIA+, com o movimento negro, com artistas brasileiros respeitados internacionalmente, com a imprensa e até mesmo com os principais parceiros comerciais do Brasil, como China e Argentina.

Agora, o inimigo da vez é o Poder Judiciário, que Bolsonaro acusa falsamente de impedir que ele exerça os poderes que tem como presidente da República. Trata-se de mais uma fantasia. A verdadeira vontade de Bolsonaro não é exercer o mandato para o qual foi eleito. O que ele quer é fazer o quê, como, quando, onde e com quem bem entender, sem nenhum limite ou possibilidade de punição.

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Isso necessariamente implica a abolição da Constituição e a instauração de uma ditadura comandada por ele. Esperemos que ele siga fracassando nesse plano hediondo: exatamente o caminho de Chávez. Evocar em cavalgadas enbandeiradas as figuras históricas é só parte da estratégia. De Chávez, de Bolsonaro.

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