Ao final da primeira semana de campanha, quando perdeu de lavada para Lula no Jornal Nacional, Jair Bolsonaro demonstrava total descontrole emocional. Em meio à palavrões, mais uma vez ameaçou adversários políticos lembrando local de descarte de corpos na ditadura militar. E, num ataque de sincericídio, admitiu seu sonho: “o ditador tinha que ser eu”.
A coluna explica.
Passou despercebido, mas ele voltou a usar o termo “ponta da praia” nesta sexta, 26, em um evento na Associação Comercial de São Paulo. No código do mandatário e das viúvas da ditadura, isso tem significado. É a lembrança do local onde era a desova de corpos de opositores. Ou seja, de adversários políticos que não pensam como ele.
O presidente da República discursava justamente sobre a possibilidade de o PT voltar ao poder quando repetiu o odioso discurso que já havia dito em 2018, no auge da campanha eleitoral em que saiu vitorioso.
Na cerimônia de inauguração de um auditório da Associação Comercial de São Paulo, Bolsonaro afirmou que se o Brasil voltar a ser governado pela esquerda eles “não [sairão] mais” do poder. Ou seja, falava claramente do PT e de Lula, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto.
“Esses caras vivem disso. Vivem do sangue da viúva. Achar que um dia um carrapato ou um verme vai sair por livre e espontânea vontade da vaca para virar vegetal, [quem acredita nisso] é um otário”, disse, segundo destacou reportagem da Folha de S.Paulo.
Ocorre que, depois, Bolsonaro continuou: ”se alguém acha que eu tenho amor àquela cadeira [de presidente], se puder falar palavrão aqui, vai pra ponta da praia. É uma merda”, vociferou. O curioso é que ele já tinha falado vários palavrões.
Como disse, isso tem um significado objetivo.
Na ponta da praia de uma base da Marinha na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro, corpos de opositores desapareceram. Lembrar isso é tenebroso. Fazer com essa insistência comprova a obsessão que ele tem pela tortura e morte de adversários.
Nesse discurso, o destemperado presidente deixou transparecer a sua verdade mais profunda: a frustração que tem por não ter participado da repressão do regime e o desejo confesso de trazer de volta aquele tipo de governo.
Para não deixar dúvidas, ele admitiu qual é o seu maior sonho numa frase que é uma confissão: “o ditador tinha que ser eu”.